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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Ontem foi dia de descascar e cortar uma abóbora com um monte de quilos, o que se revelou mais difícil do que esperava. Primeiro porque o balcão é alto e eu sou pequena; segundo porque a faca era demasiado grande e nem por isso cortava grande coisa; terceiro porque este tipo de trabalhos são efectuados uma vez por ano e portanto há pouca prática.
Mas vontade (boa) há muita. Lá está o panelão cheio de pedaços de abóbora (que encolheram menos do que é habitual, espero que não signifique nada de pior), açúcar (750 gramas por quilo de abóbora, já descascada) e vários paus de canela (acho que 2 por quilo de abóbora). Desde ontem que está a macerar e hoje, após sumo de limão (2 por quilo de abóbora) lá vai tudo para o lume.
Espera-me uma tarde de doce de abóbora, de colheres de pau, de nozes para quebrar e partir em bocados grossos (penso que utilizarei o velho método da pancada, depois de envolver o miolo das nozes num pano limpo) e do tão difícil ponto de estrada, que permitirá que o doce fique no ponto certo.
Esse é o problema mais difícil. Por isso agora deixo o doce a arrefecer no próprio panelão e só enfrasco no dia seguinte. Se for preciso mais lume ou, pelo contrário, mais água, escuso de despejar de novo o doce dos frascos para o panelão.
Falta-me ainda imprimir do Publisher os rótulos do doce, para os colar aos frascos que, entretanto, fui coleccionando. Há de tudo, desde frascos de molhos até frascos de azeitonas, boiões de vidro de iogurte, etc.
Começaram os preparativos para o Natal. Esperam-me ainda vários frascos de infusão de café, aguardente, açúcar e canela que se irão transformar em licor, num dos próximos fins-de-semana.
Chegou a minha vez de concorrer ao Concurso Baltasar de Presépio, que uma das lojas aqui do lado está a promover.
Andei bastante atarefada à procura do melhor Baltasar. Este é muito colorido, um pouco cubista. Os concorrentes são de respeito. Veremos. O júri decidirá.
É claro que estes cem mil visitantes nunca viriam cá tão depressa sem a publicidade gratuita que algumas pessoas têm estado a fazer, a propósito da noção de outras do que significa liberdade de expressão de pensamento.
Assim, a todos os que me deixaram palavras de estímulo no e-mail e nas caixas de comentários, e para os blogues que se referiram ao assunto (Womenage a Trois, Contra Capa, Jugular, Direito de Opinião, Corta-fitas, A Terceira Noite), os meus agradecimentos.
(pintura de Geraldine Gliubislavich)
Actualização: E também aos blogues Câmara de Comuns, Água Lisa, cronicasdorochedo e Anti-tretas.
(poema de Manuel Alegre; pintura de Craig Barber)
Eu não sei de oração senão perguntas
ou silêncios ou gestos ou ficar
de noite frente ao mar não de mãos juntas
mas a pescar.
Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.
(em homenagem aos pescadores)
Não sei qual é a melhor canção de amor. Mas esta é uma das melhores.
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.
Levei à Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.
Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"- Não viu... (ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.
Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.
Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.
(poema de Viriato da Cruz; canta Fausto)
Vi um pouco das prestações de Maria de Lurdes Rodrigues na Assembleia e dos representantes das bancadas do PCP, do BE, do PSD e do CDS. Aliás vi o que passaram nos telejornais de ontem. A avaliar por esses breves momentos a discussão deve ter sido pouco elevada.
O que, posteriormente, todos os órgãos de comunicação divulgaram foi o recuo da Ministra porque admitiu substituir este sistema de avaliação no próximo ano, caso se demonstrasse no terreno que era inexequível ou se surgisse outro modelo credível de avaliação, coisa que até à data não aconteceu.
Claro que ninguém se lembrou que no memorando assinado pelos sindicatos estava prevista uma comissão de acompanhamento do modelo, que faria as modificações e os ajustamentos que fossem necessários. Também ninguém se lembrou que só alguém muito estúpido é que não coloca a hipótese de mudar aquilo que está mal, quando se demonstra que está mal.
Depois do debate de ontem, a moção de hoje para suspender a avaliação não passou por falta de quórum da oposição. É extraordinário.
Por outro lado a TSF deu o mote do caso do dia: Santana Lopes acha que o governo está a esticar a corda com o Presidente para provocar eleições antecipadas. A falta de assunto é tal que Santana Lopes brilha sempre que abre a boca, nem que seja para dizer um disparate sem nome.
Nota: vale apena ler também o artigo de Fernanda Câncio, no DN de hoje, e este post do Valupi, no Aspirina B.
Afinal a crise é o melhor que nos podia acontecer! Quem pode duvidar?
Será que a crise foi uma estratégia bem sucedida de Sócrates para melhorar a economia portuguesa e devolver algum poder de compra aos depauperados cidadãos?
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