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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
(aguarela - preto e branco - Roger Hayward)
Vamos perder-nos
por dentro do deserto
que abrimos
entre as pedras do amor
que percorremos
vamos perder-nos
no labirinto em
que nos vislumbramos
pelos passos pelos erros
pelos momentos
dos sublimes encontros.
poema de Inês Torres
pintura de Braddy Romero Ricalde: the poet's dream
Não entendo a minha natureza de poeta,
nem me sei categorizar nessa condição.
Devo ser poeta das estrelas ou das coisas,
dos dias ou talvez dos sonhos, ou das árvores de outono.
Não sei bem.
Se calhar nem sou poeta,
sou só e sou sozinha.
E isso faz-me escrever.
((poema de Gabriel Celaya)
La vida que murmura. La vida abierta.
La vida sonriente y siempre inquieta.
La vida que huye volviendo la cabeza,
tentadora o quizá, sólo niña traviesa.
La vida sin más. La vida ciega
que quiere ser vivida sin mayores consecuencias,
sin hacer aspavientos, sin históricas histerias,
sin dolores trascendentes ni alegrías triunfales,
ligera, sólo ligera, sencillamente bella
o lo que así solemos llamar en la tierra.
Quem não tem memória, não tem história
Em 14 de Janeiro de 1975, o PCP convocou uma manifestação em defesa da unicidade sindical. Nesse dia, em comunicado, a Comissão Política do CC do PCP, escrevia:
A manifestação convocada pelo PCP encheu as ruas de Lisboa. Em resposta, a 16 de Janeiro, num comício do PS, Salgado Zenha, não se atemorizou e enfrentou a «rua», afrontando a unicidade sindical, a qual não foi consagrada na lei, como «a vontade do povo democraticamente manifestada» exigia. Naqueles dias, dizer, como Manuel Alegre diz hoje, «não se pode tapar os ouvidos aos protestos» tinha sido fatal para a democracia. E o ontem e o hoje podem não ser muito diferentes. Sejamos claros, se alguém mudou não foi o PCP.
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: “E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
Mia Couto
Publicado no jornal Savana, Maputo, em 14 de Novembro de 2008
(roubado à A Terceira Noite)
(pintura de Miranda de Mont)
A melopeia das vozes em uníssono
a ditadura das opiniões correctas
o lugar dos dissidentes é a parede
o dedo apontado
os olhares desdenhosos.
Já não há paredes brancas
com um grito de cor na diferença.
(pintura de Graça Morais)
Os simples recordam
manhãs de lençóis quentes
pão que estala entre dedos
as janelas de ar gelado.
Os simples não gastam
palavras necessárias
nas faces do amor
que se desejam.
Para descansar da educação e dos ovos, dos enxovalhos e da incrível e demente demagogia que tomou conta de tanta gente com responsabilidade, ontem fiz um intervalo de bom filme, boa conversa e, sobretudo, boa companhia.
Recomendo vivamente Paris. A cidade luminosa e escura, de poesia e vielas, de sofrimento e amor, de solidão, não deixem de respirar aquele optimismo doce e furtuito. Lindíssimo.
(realização de Cédric Klapisch)
Começo por esclarecer que sou professor há mais de 22 anos.
Adianto também que não me reconheço nestas manifestações, nem na histeria manifestada pelos meus colegas.
Não é politicamente correcto dizê-lo, mas o que se passa é que a qualidade pedagógica e humana da maioria dos professores é muito, muito baixa. A maioria dos meus colegas formou-se com notas anormalmente fracas, acabaram para vir para o ensino apenas aqueles que não encontraram melhor alternativa de emprego. A maioria não são professores, são funcionários do Ministério da Educação, e que como parte do seu contrato de trabalho têm de aturar miúdos durante umas quantas horas por semana. As 'bestas' como alguns se lhes referem dentro da sala de professores, para gáudio geral.
Estão 100.000 professores na rua? Ou 100.000 funcionários que apenas vêm os seus privilégios ameaçados? 100.000 parasitas do Estado que apenas querem direitos, mas recusam quaisquer deveres, quaisquer obrigações de prestar contas à sociedade que lhes dá de comer?
O que mais me angustia é que há um erro de princípio na reforma da educação: ela não se fará com os professores (como é politicamente correcto dizer) porque estes não o são. Apenas se fará com OUTROS professores; dignos dessa profissão e cujo nome foi usurpado.
Escusado será dizer que não me atrevo a manifestar publicamente o meu desacordo perante os meus colegas na escola. Uma maioria esmagadora, ameaçadora, mesquinha e incapaz de discutir com quem discorda, apenas insultar. Estou refém dos meus colegas, tal como os pais dos alunos e todos aqueles que querem ver o seu país evoluir baseado no esforço e no mérito;
Estamos todos reféns porque hão-de vir paralisações e suspensões de aulas. Hão-de arranjar maneira de parar as aulas para pressionar os pais, mas sem greves, pois essas lhes afectam o vencimento que querem garantido no final dos 14 meses. Os alunos são as primeiras vítimas porque eles não têm, nem terão, quaisquer escrúpulos em os sacrificar à manutenção das suas mordomias, aos interesses políticos de terceiros. Quando ouvi o Manuel Alegre (em quem votei), dizer as barbaridades que hoje disse sobre a Ministra percebi o quanto esta é uma luta política de que os meus medíocres 'colegas' são meros peões.
Continue Senhora Ministra, continue, que não lhe faltem as forças, é o que todos os professores dignos desse nome, mas que têm de permanecer calados, clandestinos dentro das suas próprias escolas, lhe imploram.
Comentário de professor-na-clandestinidade (11/11/2008 - 23:43h)
Manuel Alegre não suporta os tiques autoritários da Ministra da Educação, não suporta o posso, quero e mando deste governo nem suporta mais a falta de cultura democrática de Maria de Lurdes Rodrigues.
Gostava de saber qual o conceito de cultura democrática de Manuel Alegre, que não disse uma palavra, pelo menos que eu tenha lido ou ouvido, sobre a suspensão de um deputado na Assembleia Regional da Madeira, ou sobre a suspensão da própria Assembleia Regional da Madeira.
Gostava de entender se o que Manuel Alegre se lembra das gigantescas manifestações do célebre Verão quente de 1975, e se defendia, nessa altura de revoluções e contra-revoluções, que aquilo que se reivindicava na rua fosse atendido pelo governo.
Também gostava de saber se Manuel Alegre acha mais importante a intervenção do Presidente da República na guerra civil da educação ou na efectiva garantia do normal funcionamento das instituições democráticas, como é uma Assembleia Regional.
Gostaria ainda de saber se Manuel Alegre também acha que a contestação democrática à Ministra, que é arrogante, autoritária e autista merece o enxovalho de receber ovos de uns meninos que contestam as leis que chegam à Escola, mesmo que nem saibam dizer quais são. Será que estão apenas a exercer o seu justo direito à indignação?
De facto alguns autistas existem em todo este processo, e não me parece que seja a Ministra Maria de Lurdes, que tem a minha inteira solidariedade. Não é admissível, em nome de coisa nenhum, aturar semelhantes abusos.
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