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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Podemos ser todos a favor dos pobres e dos oprimidos, da igualdade e da solidariedade, da partilha, do amor, da paz e de todos os sentimentos nobres de que nos lembrarmos, que constituem o verniz da civilização ocidental, estando ainda geneticamente incorporado em raros e excepcionais exemplares.
Mas o que temos presenciado, em exigências, vitimizações, manifestações e ultimatos de grupos, pertencentes a minorias étnicas, raças, religiões, corporações profissionais ou outras formas de associação de pessoas com traços comuns, físicos, culturais, laborais ou ideológicos, faz estalar o verniz a uma velocidade assustadora, deixando transparecer o fundo animal e troglodita da maioria da espécie.
Não é mais possível em nome dos valores universais de convívio e respeito sociais aguentar a arrogância de quem se pensa merecedor de direitos sem perceber que tem que cumprir deveres e aceitar responsabilidades.
Não é mais possível assistir impavidamente ao atropelo dos direitos de todos os outros cidadãos, da Quinta da Fonte e de todas as quintas, fontes, estradas, pousios, praias, ermos, casarios, condomínios privados, abrigos sociais ou hotéis de muitos dias e noites existentes por esse país fora, assistir à chantagem de algumas famílias de ciganos da Quinta da Fonte que, para além de ocuparem espaço público como se fosse sua propriedade, fazem ultimatos ao governo para que lhes dêem casas onde entenderem, ameaçando com concentrações nacionais.
poema de Catarina Nunes de Almeida
A metamorfose das plantas dos pés
Um pedaço de pão na boca e mastigo os campos.
Reconheço a linha do meu ventre
céu folhas e lagos subterrâneos
sem nunca ter medido a sombra dos frutos.
Neste canteiro branco no meio de cobertores
o corpo tem o peso da tua semente.
Não se pode justificar tudo pela necessidade de pragmatismo. O nosso primeiro-ministro ofendeu as democracias com tão rasgados elogios a José Eduardo dos Santos e ao notável trabalho que tem feito.
Há limites para tudo.
São raras as pessoas desta têmpera, que fazem de facto a diferença.
Parabéns, Nelson Mandela. É um privilégio ter assistido à sua libertação e ao fim do apartheid.
A somar aos pedidos de contraditório aos comentários políticos de Marcelo Rebelo de Sousa, agora juntam-se os pedidos de contraditório no que diz respeito à indignação pelos presos políticos.
De uma forma que me deixa indisposta, quem lê os posts de Vítor Dias só pode considerar-se limpo de consciência se, por cada refém das FARC que denunciar e pedir para ser libertado, associar a denúncia e o pedido de libertação de um sindicalista preso pelo regime encabeçado pelo Presidente Uribe.
Nesta contabilidade não sei quantos sindicalistas valem a liberdade de Ingrid Betancourt, ou quantos posts de indignação e solidariedade pelos comunistas presos na Colômbia se devem somar para justificar os posts que pediram a libertação de Ingrid Betancourt.
A condenação das FARC não implica a defesa das políticas praticadas pelo regime colombiano, nomeadamente a perseguição de sindicalistas, comunistas, jornalistas e outros, pela exposição e defesas das suas ideias, da corrupção e do narcotráfico.
Sei pouco do que se passa na Colômbia. Mas através do Human Rights Watch encontrei vários artigos, incluindo o relatório mundial de 2008, onde se fala de atentados aos direitos humanos por parte dos grupos paramilitares e terroristas, onde se inclui as FARC, e do próprio regime. Ninguém está inocente.
A indignação por quem sofre em regimes totalitários é universal, para os de direita e para os de esquerda, em todos os países em que tal sucede, sejam eles em que continente for. Mas o PCP e os seus porta-vozes, preferencialmente não se referem ou encontram sempre justificação para os atropelos à liberdade, quando praticados por quem o PCP aceita como seus companheiros, defendendo os trabalhadores e os democratas, como as FARC, nem que a justificação seja apenas a oposição a regimes que também atropelam os direitos humanos.
Ao contrário de Vítor Dias não contabilizo a minha solidariedade nem a minha revolta.
Há algo que me escapa na estratégia da nova direcção do PSD. Não consigo compreender como é que um partido que pretende ser governo consegue defender que: O papel do PSD na oposição não é apresentar alternativas às propostas do Governo, mas sim fiscalizá-lo.
Como é que é possível levar alguém a sério (a tão famosa credibilidade) quando Manuela Ferreira Leite, sem se rir e a propósito do relatório do Banco de Portugal, questiona: “Não há medidas até lá? Não há nada susceptível de ser feito para melhorar esta situação? Já lançaram os braços abaixo, já acham que 2009 é pior que 2008?
Mas o mais espantoso é esta afirmação: Parece-me um Governo que lançou os braços abaixo, que está esgotado, que não tem ideias e sabe muito bem governar em situação de grande prosperidade e fica absolutamente desorientado quando se entra numa situação de crise."
Será que Manuela Ferreira Leite considera que o estado em que o partido dela deixou o país, em 2005, foi de grande prosperidade?
Onde estão Pacheco Pereira, Paulo Rangel, Aguiar Branco e todos os outros? Preciso urgentemente que me expliquem o que Manuela Ferreira Leite quer dizer, porque eu não devo ter percebido.
poema de José Luís Peixoto:
A Criança em Ruínas
pintura de Amy Ross: Cow Birch with Barred Owls
tenho aquela que me olha e que olho
e misturamo-nos como brisas e
silêncios e digo tenho aquela que
me vê e ela olha-me e tudo o
que somos é uma partilha uma
mistura e digo diz e aquela que
tenho beija-me num olhar e num
silêncio que não posso dizer
Não sei se Vítor Constâncio falou na alternativa nuclear propositadamente para desviar as atenções dos media de tudo o resto que demorou 4 horas a explicar aos nossos Deputados, na Assembleia da República. Mas se não foi uma manobra dele, ou de quem quer distrair as pessoas dos problemas da governação e da oposição à governação, parece.
A TSF, no seu estilo muito próprio, abriu hoje as hostilidades com notícias sobre quem está contra e a favor da opção nuclear, com o Forum TSF sobre esse assunto.
Assim se faz a opinião pública.
Vítor Constâncio foi à Assembleia da República dizer o que se esperava, foi mesmo pior do que já se esperava. Que a economia vai crescer menos, que a inflação e o desemprego vão crescer mais. Também disse que se devem continuar as reformas estruturais e o controlo do défice, que não se devem baixar os impostos, que há dinheiro para os investimentos anunciados pelo governo, que se deve ponderar todas as hipóteses alternativas ao petróleo, nomeadamente a energia nuclear.
Ao contrário de algumas leituras, o Governador do Banco de Portugal deu força ao que foi feito pelo governo e disse mesmo que deveria ter feito mais e deve continuar a fazer. Disse ainda que se não fosse a crise internacional que a consolidação da economia seria mais convergente com a média europeia.
O governo não vai cumprir todas as suas promessas. As reformas ainda estão a meio, o desemprego aumenta, por muitos postos de trabalho novos que tenham sido criados, há um desencanto e uma desmotivação naqueles que têm mais dificuldades económicas, pois não vêm uma luz ao fundo do túnel. Mas a verdade é que, na sondagem mais recente efectuada pela Universidade Católica, demonstra-se que não há percepção de uma alternativa credível a este governo, e que as pessoas têm a noção de que Sócrates e os seus ministros fizeram mais e melhor que os governos de Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes.
Não sei qual é a solução para este estado de coisas. Mas que as reformas no SNS, na educação, na administração pública e na justiça são cruciais para o desenvolvimento do país parece-me uma evidência. Que a existência de serviços públicos de qualidade são a melhor forma de igualar as oportunidades de todos os cidadãos a uma vida melhor, parece-me inquestionável. Que a aposta nos serviços públicos tem que ser feita com o combate ao desperdício e a reorganização dos serviços, para que se sirva a população e não as corporações profissionais, parece-me indiscutível.
É uma questão de atitude, de mudança de atitude de todos nós.
Nota: Não percebo porque é que a SIC convida Bagão Félix para comentar este relatório e o governo; qual a credibilidade dele? Mas há uma coisa em que tem razão: o debate da nação deveria ter sido feito após a saída do relatório do Banco de Portugal. Foi uma atitude pouco séria de Sócrates e de desprezo pelo Parlamento.
Ingrid Betancourt está em liberdade há 12 dias. Desde a sua libertação e a dos outros reféns, tem sido filmada, entrevistada, condecorada, numa corrida desenfreada de aproveitamentos vários da sua figura como política que era e política que é, pelo Presidente da França, pelo Presidente da Colômbia, pelo Presidente dos EU, por Hugo Chavez, por Zapatero, por todos e por ela própria.
Há já quem critique este frenesim, mas a verdade é que é um excelente momento para promover a libertação dos que ainda estão sequestrados, não deixando morrer o assunto, até porque os políticos que deram visibilidade à causa estão também a recolher os dividendos dessa libertação.
Em todas as entrevistas lhe perguntam se foi torturada, abusada, tentando exposições e confissões que alimentarão o horror de uns, o escândalo de outros.
Ingrid Betancourt disse, numa das suas entrevistas, ou em várias, que aprendeu que todos nos podemos transformar em animais, portar como animais, se formos tratados como animais. Uma lição que o ser humano não aprende nunca e que apenas experimenta quando passa por situações em que se deixa submergir pelo melhor, mas sobretudo pelo pior que tem dentro de si.
Os conflitos, as maldades, as raivas, as cumplicidades, os ódios, os actos de heroísmo e cobardia, a crueldade ou a total entrega, tudo deve ter acontecido naquela selva, entre companheiros de infortúnio e rebeldes, como em todas as selvas em que se luta pela sobrevivência.
O afastamento entre Ingrid Betancourt e Clara Rojas poderá ser o resultado de circunstâncias terríveis que terão envolvido o nascimento do filho da segunda em pleno cativeiro. Seria seguramente melhor para ambas que o resolvessem entre elas, se é que é possível resolver alguma coisa, do que trocarem acusações públicas.
A exaustão não é boa conselheira. Falta o tempo, a calma e a recuperação daquilo que pode ser a decência e a dignidade que existe no facto de estar livre, processar o que se passou e tentar recomeçar a viver.
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