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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Podem descansar os espíritos mais inquietos. Afinal a exclusividade dos médicos para o SNS foi só uma ameaça que, pelos vistos, não será para cumprir. Podem respirar fundo o Bastonário, os representantes sindicais e o sector privado (como aqui se sugere). Como disse um comentador a um post meu anterior (o médico céptico): (…) o SNS beneficiou do trabalho de todos os médicos, os melhores e os piores, com base numa espécie de contrato não escrito - pagavam pouco, mas deixavam tempo suficiente para os médicos poderem complementar o ordenado na actividade privada. (…).
Ou seja: eu finjo que trabalho e tu finges que me pagas. Pelos vistos há muitos a quem este contrato não escrito é satisfatório. Para mim não e para os doentes e o estado também duvido que o seja.
José luís Peixoto escreve por dentro das veias nodosas das mãos dos velhos, seguindo as rugas das faces dos velhos, colorindo de cores pardas as batas, os lenços, os fios brancos dos cabelos, alisando as enxadas, os machados, as águas revoltosas e frias, saboreando os pedaços de queijo e pão.
Pedaços da vida sem tempo, excelentes textos de um dos melhores escritores contemporâneos.
Na Barcelona da década de 80, um dentista envolve-se numa campanha eleitoral e conhece duas mulheres que lhe condicionarão a vida, a ideologia, a desilusão dos outros e dele próprio. É um romance desapiedado.
A vida social e política numa sociedade que se vai abrindo, o papel das mulheres ainda balançando entre a aparência de modernidade e a tradição machista, as associações de bairro, os padres operários e a SIDA, num texto despojado de emoção, com frases curtas, quase documentais, um pouco cru e cruel. Lê-se num ápice.
(Eduardo Mendoza - 2006)
Mia Couto é um manipulador da palavra e da língua, que usa e reinventa à medida da sua enorme sensibilidade. Desde os nomes próprios das personagens às situações que vão fluindo, reais ou sonhadas, numa simbologia de afectos e poções, bruxarias e silogismos, burilando um conto dos que ouvimos lido à lareira, ou sussurrado junto à praia.
Não sei se é veneno de Deus ou remédio do Diabo, mas não conseguimos parar de o beber e ele entranha-se na pele.
(Mia Couto - 2008)
Miguel Sousa Tavares escreve bem e Rio das Flores é um bom livro. Está bem escrito, lê-se de uma assentada, tem romance, história, aventura, guerra, liberdade e ditadura, espanholas, touradas, caça, discussões, Brasil e terra, a omnipresente terra, todos os condimentos para prender o leitor e contar uma história bem contada.
No entanto há alguns senãos neste livro: as personagens femininas estão pouco aprofundadas, particularmente a mãe de Diogo Ribera Flores (Maria da Glória), que parece ter sido esquecida e relembrada aos saltos, em excertos por vezes demasiado longos mas desgarrados do todo. Há um arrastar no desenvolvimento da história do amor de Diogo pelo Brasil, mas a decisão deste aí ficar, a compra da Fazenda e a seu enamoramento por Benedita é tirado a ferros, parecendo querer apressar o fim do livro.
Não sei avaliar as precisões históricas mas para quem é leigo tudo faz sentido e a narrativa de vários episódios da época são excelentes, talvez melhores que o enredo romanesco. De qualquer forma, é um bom livro para devorar em férias.
(Miguel Sousa Tavares - 2007)
Tenho que aplaudir de pé a decisão do Ministério da Saúde impor a exclusividade aos médicos do SNS. Sempre pensei que a separação entre público e privado era essencial para melhorar a produtividade do sector público e rentabilizar as instalações e os meios técnicos.
Quanto ao papão da fuga de médicos do público para o privado, dos melhores como disse Carlos Santos, do SIM, pelo facto de se praticarem melhores salários no sector privado, gostaria que fossem esclarecidos alguns pontos:
É importantíssimo que se faça uma remodelação das carreiras médicas, se bem que me parece que o sector privado não deve ficar de fora, à partida, das formações pré e pós graduadas. Penso que isso deve depender das condições que têm nos diversos serviços e na garantia de qualidade e de cumprimento dos programas aprovados pela OM.
Afinal o bar não é de irlandeses mas sim de ingleses (perto de Cambridge). É claro que se impunha mudar para gin tónico.
A água está gelada, o sol queima e a areia teima em pegar-se ao corpo besuntado de protector solar, factor 50+, por causa da pele de lula e das alergias. Enfim, o santo sacrifício da praia.
Hoje estou numa esplanada de um hotel na qual tenho acesso livre à internet. A acompanhar um cantor com uma parafernália de sons e batuques, perigosamente parecido com o Tony Silva. Há pares que dançam.
Extraordinárias são as coisas idiotas que se inventam para gastar estupidamente dinheiro, como uma espécie de triciclos automáticos, onde se colocam as crianças, artilhadas com capacetes, cotoveleiras e joelheiras, ou uma espécie de veículo movido a 4 pedais, para pedalarem os papás com as criancinhas refasteladas à frente e atrás.
Penso que o sol amolece o cérebro.
A todos os que têm comentado agradeço e peço desculpa por não ter respondido. Espero ansiosamente pelo "apita o comboio".
Boas férias e bom trabalho.
(pintura de Harold Greenhill: Summer holiday 1950)
Por estes dias estou pouco contactável, nas profundezas do mar e da areia sem rede disponível, tendo que beber vários vodkas laranja no bar dos irlandeses, para conseguir ver mails e blogues.
Uma boa cura de tecnologia. Pelo menos tenho lido que me farto.
Vou passando, sempre que puder.
(pintura de Joe Lima: Stillness in the Afternoon)
Respiro o silêncio
neste lugar sem fundo
sem fim.
Aguardo o vento
neste silêncio imenso
dentro de mim.
(...) A profecia realizou-se. Em nome da modernidade caiu-se na pornografia em massa, na promoção do aborto, divórcio, deboche e perversão, no descalabro da educação, solidariedade e castidade, no horror da traição, solidão, depressão, suicídio.
Não consigo perceber o que é que tem a ver o uso da pílula com o insucesso escolar...
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