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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Não percebo muito bem se há algum objectivo maquiavélico escondido que faça com que as notícias sejam dadas da forma mais alarmista possível, que seja sempre o pior cenário a considerar, transformando-se rapidamente de previsível a certo.
Da insegurança com o carjacking , o assalto às lojas, o crime organizado e, ultimamente, o assalto às esquadras, do aumento contínuo do preço do petróleo, do preço dos cereais, dos alimentos e da fome que há-de vir, da crise mundial, do biocombustível e do aquecimento global, somos metralhados constantemente por frases feitas que nos levam a viver em permanente sobressalto.
Até o Presidente da República, ao escolher o tema da ignorância da juventude, embora não tenha mentido por acção mentiu por omissão, dando a entender um valor relativo do que foi estudado quando apenas falou do valor absoluto.
O problema é que acabamos por não dar atenção nem valor a nada, mesmo ao que, verdadeiramente, é importante e avassalador.
De cada vez que vou ao cinema espanto-me por o fazer tão poucas vezes. Adoro ir ao cinema.
Caramel (Sukkar banat - 2007), de Nadine Labaki, é um excelente filme, que nos enche de ternura. Uma história de todos os dias, de mulheres, do amor, da solidão, do carinho, da irmandade e companheirismo, da difícil mudança de mentalidades, do que se altera e do que permanece.
O Amor e a vida real (Dan in Real Life - 2007), de Peter Hedges, é um filme leve e bem disposto, realista e sonhador, com rugas de envelhecimento e má educação adolescente quanto baste.
De cada vez que vou ao cinema prometo a mim mesma passar a fazê-lo todas as semanas.
Por falar em estados de humor, caras e papéis dramáticos ou cómicos, aqui está um senhor cheio de vontade de ser Primeiro-Ministro do Continente (e da Madeira e dos Açores, presumo).
Gosto muito do Zeca Afonso, do José Mário Branco, do Sérgio Godinho. Gosto de Ary dos Santos, de Manuel Alegre, de Sophia de Mello Breyner . Está-nos no sangue e na alma sentirmos emoção e alegria ao evocarmos o 25 de Abril, ao relembrarmos as canções, as manifestações, os quadros de Vieira da Silva – a poesia está na rua – as palavras de ordem, a certeza da realização do impossível. Vivemos a solidariedade, o companheirismo, o “nosso”, o “nunca mais”, a “liberdade”, o “venceremos”, o “juntos”. Vivemos Vasco Gonçalves e Melo Antunes, Álvaro Cunhal e Mário Soares, os Capitães de Abril e Spínola, o PREC , Pinheiro de Azevedo, Ramalho Eanes, o 25 de Novembro, tudo, intensamente.
Passaram 34 anos. Estou 34 anos mais gorda, tenho mais 34 anos de cabelos brancos, ouvi mais 34 anos de canções excelentes, li mais 34 anos de poemas que me formam, vivi mais 34 anos de sonhos, de paixões, de desilusões, de filhos, de vidas, de mortes, de amigos, de traições, de eleições, de manifestações, de computadores, de notícias, de tudo.
Hoje, 34 anos depois do dia 25 de Abril de 1974, embora seja nossa obrigação mostrarmos e ensinarmos às gerações que já nasceram durante este 34 anos o que foi, o que era, o que passou a ser, tal como é nossa obrigação mantermos a ligação com os nossos pais, avós, histórias, passado, daquele que nos orgulhamos e daquele de que nos envergonhamos, não podemos pedir-lhes que sintam o mesmo que nós. Não podemos pedir-lhes que ouçam religiosamente as canções de Abril, que se foram transformando em rituais, ou assistir entusiasmados ao filme Capitães de Abril, que é mau, que não é credível, que não tem ritmo, que mostra criadas e soldados intelectuais de esquerda, ou que assistam aos discursos na Assembleia da República, mais velhos e ultrapassados que os que se ouvem a 5 de Outubro.
A juventude é ignorante em história, em política, em Matemática, em Português, mas sabe muito mais que nós algum dia saberemos de coisas que nem imaginamos que existem. A actuação política dos nossos representantes políticos, as suas mentiras, o seu alheamento da realidade, a nossa falta de interesse na leitura, na conversa, no pensar por nós próprios, no esforço de participar são algumas das explicações para o desinteresse dos nossos filhos pela causa pública.
Não é num dia por ano que lhes vamos ensinar o que não vivemos todos os dias. Não é um Presidente da República que hipoteca a dignidade do seu cargo numa visita protocolar à Madeira, não é um Primeiro-Ministro que não cumpre os compromissos eleitorais, nomeadamente no que diz respeito ao Tratado de Lisboa, não é uma oposição de direita que se digladia e se faz representar por personagens como Alberto João Jardim, Santana Lopes, Luís Filipe Menezes ou Paulo Portas, ou uma oposição de esquerda arcaica, demagógica e anacrónica cujos porta-vozes são Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, não são sindicalistas militantes desde há 34 anos que defendem o mesmo que defendiam em 1975 que lhes dão exemplos de participação cívica.
A cidadania constrói-se todos os dias e dentro das nossas casas, para fazer parte da nossa vida, não em liturgias e avaliações cíclicas e anuais do estado a que isto chegou.
Já passaram 34 anos desde o 25 de Abril e a nossa democracia é uma realidade. Tem defeitos? Pois tem, defeitos de uma sociedade que é feita por pessoas, que vive e se transforma diariamente.
Era uma miúda em 1974 mas absorvi aqueles tempos como uma esponja e a alegria, o voluntarismo, o optimismo, a irrealidade que se vive nos sonhos tocou-me profundamente. Não há nada que se consiga sem a ingenuidade e a utopia de quem começa. E o país começou, ou recomeçou muita coisa.
O coro de vozes soturnas e azedas que se lamentam todos os anos e que vaticinam o pior para o que há-de vir é cansativo e enervante. Só quem não quer ver é que pode sequer comparar a qualidade de vida, o desenvolvimento económico, a prosperidade de Portugal antes e depois do 25 de Abril.
Ao fim de 3 décadas muito mudou e muito há para mudar. A celebração deste dia renova-nos a esperança pois podemos ter a certeza de que a democracia, o bem-estar e a liberdade são possíveis, são alcançáveis e estão nas nossas mãos.
Que se façam sessões solenes na Assembleia da República, que se façam manifestações e marchas, que se façam concertos, exposições, piqueniques, manhãs de praia ou na cama, que cada um celebre o dia à sua medida, nunca esquecendo que desconhecer o passado é comprometer o futuro.
Este é um dia de festa para todos. Não há mais ou menos democratas, não há melhores ou piores herdeiros da revolução. Somos todos filhos da madrugada.
É desta fibra que se fazem os heróis!
Estou aqui mais uma vez disponível para o combate
Santana Lopes, Público online (24/04/2008)
Em defesa do SNS e dos doentes, tão ameaçados por Correia de Campos e tão defendidos pela Associação Portuguesa de Hospitalização Privada.
Há um bocado passou um filme de terror na televisão, mais precisamente na RTP-N , sem avisos nem bolas vermelhas.
De uma assentada desfilaram Patinha Antão, Mendes Bota, Ribau Esteves, alguns discorrendo sobre a maravilha de uma hipotética candidatura de Alberto João Jardim à liderança do PSD.
Como me dizia alguém: mas ele tem tropas no Contnente?
Pelos vistos está a arregimentá-las a uma velocidade vertiginosa. Deve ser por isso que estou meio zonza, até um pouco nauseada.
(pintura de Carole B.Perret: Tourbillon Automnal )
Não me importo de escrever e falar, de ouvir e perguntar
de gostar e saborear, de rir e de chorar
de te ver, de te beijar
não me importo de me importar.
Mas já me importa o ter que haver, que somar
que guardar, que reter, que empacotar
que segredar, que esconder, que suspirar
pelo gosto que tenho em viver e tudo dar.
E então, depois deste desafio, a que espero ter conseguido responder, lá terei que o estender a outros lados:
Pois é, e assim será.
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