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Ásperas certezas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.01.07
Árduas e ásperas
as línguas das mulheres
as razões dos homens
abrem feridas
inauguram afectos
rasgam gargantas
perpetuam raízes.

Árduas e ásperas
as certezas inumanas
nas fronteiras da vida.

(pintura de Paula Rego: mulher-cão)

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publicado às 22:33

Perigosas inanidades

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.01.07

Será que, se não tivesse havido a mediatização do caso Esmeralda, o Tribunal Constitucional demoraria 4, 5 ou 10 anos a pronunciar-se, em vez dos infindáveis DOIS ANOS que demorou?

Foi demasiada a coincidência. E se esta comoção social ajudou a acelerar o processo, por muito positivo que isso seja, é um sintoma terrível num estado democrático que se pretende de direito, as decisões andarem "a reboque” das emoções veiculadas e amplificadas.

Este Estado torna-se perigoso, inseguro e injusto para os seus cidadãos, que pretende servir.



O Ministro Manuel Pinho deveria ser proibido de falar. Tanta infelicidade até dá dó, principalmente do país! Vai acenar-se com a cenoura dos baixos salários para a China??? Pelos vistos o Ministro está a pensar reduzi-los um pouco mais, para ficarem mais baixos que os dos chineses!!!

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publicado às 22:09

Faltam 11 dias

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.01.07
Goste-se ou não do estilo de Fátima Campos Ferreira, o programa Prós e Contras tem-se afirmado como um programa de informação obrigatório. Após o exemplo do que não se deve fazer, quando o tema foi o caso da menor que é disputada pelo pai biológico e pela família de acolhimento, em que se criou um ambiente quase intimidador para os que questionavam a conduta do Sargento, nomeadamente para o magistrado e para o advogado que representava o pai biológico, ontem houve um bom programa de informação.

Não quer isto dizer que tenha sido muito informativo. Mas houve a oportunidade de ouvir defensores de ambas as opções.

Algumas coisas ressaltaram no meio do embrulho em que se tenta transformar o referendo:


  1. Não sei em que mundo vivem Isabel Galriça Neto, João Paulo Malta, Laurinda Alves, Katia Guerreiro, que só conhecem mulheres que, apoiadas (ninguém explicitou como), acabam por não abortar. O mundo que eu conheço é um mundo ligeiramente diferente, talvez mais parecido com o de Lídia Jorge. Conheço mulheres que engravidaram sem querer, ou porque não usaram métodos anticonceptivos, ou porque estes falharam, ou porque os usaram mal, ou porque são muito jovens e imaturas, ou porque estão na menopausa e as irregularidades menstruais enganam-nas, levando-as a pensar que não engravidarão.
    Algumas destas mulheres, após o choque inicial, aceitam a ideia de ser mães, com ou sem apoio, com ou sem maridos, companheiros, namorados, mães e futuras avós, com ou sem censura social ou familiar.
    Outras não aceitam de forma nenhuma a hipótese de levar a gravidez até ao fim, não reconhecem como facto o terem um ser humano dentro delas, apenas sentem que têm uma coisa, como muito bem expôs Lídia Jorge, uma coisa que a todo o custo rejeitam, que querem que desapareça, quanto mais depressa melhor.

  2. O poema de Rita Ferro espelha exactamente o problema de fundo de toda esta discussão – a inferiorização, apoucamento e menorização da mulher. Infere-se que esta, se não aceita a sua gravidez, está a negar a sua essência feminina, o seu destino, o seu objectivo na vida, ou seja a maternidade. Daí o arrepio pelo facto de ser por opção da mulher. No fundo não se lhe reconhece o direito e a capacidade de decidir.

  3. O assassinato de Aguiar Branco, ao responder a uma pergunta venenosa de Vasco Rato, quando reconheceu que votou afirmativamente a pergunta do referendo, usando agora como estratégia o ataque à forma e pertinência da pergunta.

  4. A tentativa desesperada dos defensores do “não” de desinformarem, apoiando objectivamente o aumento da abstenção.

  5. Já agora, Aguiar Branco afirmou que o problema do aborto clandestino após as 10 semanas não fica resolvido. Acho este raciocínio absolutamente absurdo: se o aborto for despenalizado até às 10 semanas as mulheres terão a possibilidade de o fazer dentro do tempo legal e seguro, sem medo e, portanto, a escassa minoria de abortos que existem após as 10 semanas provavelmente desaparecerá.

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publicado às 18:48

Participar

por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.01.07
Este referendo não tem a ver com posições partidárias nem com cargos políticos, nem com professores Marcelos. Tem apenas a ver com cada um de nós, como cidadão, como homem e mulher, de si para consigo.

Queremos ou não mudar a lei? Concordamos que uma mulher que aborte, até às 10 semanas de gestação, seja condenada a pena de prisão?

É a essa pergunta que deveremos responder.

Por outro lado este é o 3º referendo efectuado até agora. Se, pela 3ª vez, a participação for inferior a 50%, será provavelmente o último.

Votar é um acto de cidadania e de responsabilidade. É uma forma de intervenção na vida comunitária.

Eu vou votar SIM.


(Picasso: grávida)

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publicado às 21:40

Auschwitz, há 62 anos (2)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 28.01.07
Tive pela primeira vez a uma noção do que poderia ter sido o Holocausto quando vi uma excelente série documental na televisão: O Mundo em Guerra (The World at War, da Thames Television, 1973). Tudo, desde a apresentação, à música de abertura, à voz de Laurence Olivier, era absolutamente arrepiante, pregando-me à cadeira, hipnotizada. Os episódios que narravam a deportação e o extermínio dos judeus, os campos de concentração e a sua libertação, eram aterradores.

A banalidade do mal, a máquina administrativa e bem oleada do Estado Alemão, o esforço daquele país na guerra, a alienação do povo, a luta pela sobrevivência, o despojamento de tudo o que significa ser humano, da dignidade, da identidade, tudo me horroriza. Do que podemos ser capazes!

Depois disso já li muita coisa sobre o Holocausto. A Escolha de Sofia, de William Styron, foi o primeiro, Sem Destino, de Imre Kertész, o último, e o que mais me impressionou. Com este livro nos apercebemos de como nos podemos adaptar ao mal absoluto e absurdo, fazendo do inenarrável o quotidiano, no sofrimento, no adormecimento das funções cerebrais superiores, como nos adaptamos a sobreviver encurralados, como a simples ideia de comer pode ocupar a totalidade da existência.

Assusta-me que a memória colectiva se vá esvaindo, permitindo haver quem ponha em causa a existência do Holocausto. É o primeiro passo para a repetição do horror. Não percebo porque não são obrigatoriamente mostrados filmes e documentários nas escolas, porque não se mostra aos nossos filhos o que a banalização do mal pode fazer.

Fui dar a estes 2 sites: Fórum de comemoração do 60º aniversário da libertação de Auschwitz-Birkenau; museu de Aushwitz-Birkenau.

Para que ninguém esqueça, para que nunca se repita.

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publicado às 22:42

Auschwitz, há 62 anos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.01.07
First they came for the Jews
and I did not speak out
because I was not a Jew.

Then they came for the Communists
and I did not speak out
because I was not a Communist.

Then they came for the trade unionists
and I did not speak out
because I was not a trade unionist.

Then they came for me
and there was no one left
to speak out for me.

(poema de Martin Niemöller)

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publicado às 23:04

Alcance

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.01.07
Pelo que fizemos
dos dias
sem montes
sem ventos
sem qualquer átomo
de incerteza,
pelo que absorvemos
distraidamente
sem saborear
sem experimentar,
pelo que queremos
e não perdoamos,
a vida nos alcance.


(pintura de Conchita Carambano: contemplation)

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publicado às 17:43

Estrela

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.01.07
Legenda
para aquela estrela
azul
e fria
que me apontaste
já de madrugada:
amar
é entristecer
sem corrompermos
nada.

(poema de Carlos de Oliveira; pintura de Naofumi Maruyama: aurora)

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publicado às 22:04

Sempre diferentes, sempre iguais

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.01.07
Afinal o Homem já era um predador muito perigoso na idade do gelo! Segundo um artigo do National Geographics News, foram encontrados fósseis de cerca de 70 espécies diferentes de animais de grande porte, em grutas com 3 a 4 milhões de anos (descobertas em 2002), localizadas em Nullarbor Plain, Austrália.

Os cientistas chegaram à conclusão, pela análise dos ossos e dos dentes dos animais, que estes estavam muito bem adaptados ao clima e que não deveriam ter sido as alterações climáticas, como até agora se pensava, que tinham levado à extinção de muitas espécies, como o Thylacoleo (leão-marsupial), da família dos mamíferos marsupiais que habitaram a Austrália no Neogénico (de há 23 milhões a 30 mil anos), mas sim a acção do predador mais perigoso e insaciável – o Homem. Terão sido as caças desenfreadas e os incêndios provocados pelos humanos os causadores da extinção das espécies.

Podemos dizer que não evoluímos nada desde então!

(imagem de Thylacoleo e dos fósseis referidos)

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publicado às 21:54

Curtas, curtíssimas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.01.07
No caso dos voos da CIA não sei muito bem que investigação é que o governo vai terminar, se nunca a começou. Agora que o PGR resolveu enviar para o DCIAP documentos que lhe foram entregues pelo jornalista Rui Costa Pinto a propósito de uma reportagem sobre esse assunto, e que o relatório da comissão do parlamento europeu sugeriu que se investigassem indícios de voos ilegais, o Ministro Luís Amado dá por terminado o incidente, fruto apenas da má vontade e sede de protagonismo de Ana Gomes! Parece-me um “timing” infeliz, para não dizer mais. Aliás tudo na reacção do governo a este assunto foi muito infeliz, para não dizer desastroso e suspeito.

O folhetim embusteiro da co-incineração soma segue e continua. Após a divulgação dos resultados dos testes de co-incineração realizados na SECIL do Outão terem demonstrado, mais uma vez, que não havia perigo para a saúde pública com a queima de resíduos perigosos, o tribunal vem parar outra vez o processo para pedir mais um estudo de impacto ambiental? O que é que se modificou no ambiente desde o outro estudo? NADA DE NADA. Como é possível continuarmos nesta demagogia que atrasa a implementação de medidas importantes para a melhoria ambiental, com argumentos totalmente falaciosos?

José Sá Fernandes deve estar bem satisfeito com a confusão instalada na Câmara de Lisboa. Em primeiro lugar porque conseguiu que se investigassem negócios muito pouco claros (que já devem existir há décadas), honra lhe seja feita. Em segundo lugar porque o BE deve ser a única formação política, talvez em conjunto com o PCP, que ficará satisfeita com novas eleições. O PS, o PSD e o CDS só têm a perder com eleições agora e devem estar a pensar numa coligação silenciosa de interesses para manter esta maioria até às próximas eleições.

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publicado às 21:58

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