Nesta casa serve-se tudo a quente. As cadeiras são de pau e têm as costas direitas. Há sempre pão a cozer e o conforto da desarrumação. A porta está sempre aberta... mas fecha-se rapidamente aos vermes que infestam alguns cantos do quadrado. Sejam
José Sócrates está feliz com os 97,2% de votação na sua pessoa. Eu não ficaria tanto. Uma eleição ganha à partida não me parece motivo de regozijo. Um congresso que se anuncia um coro de sim senhores ao seu governo, ainda me parece menos satisfatório.
Onde estão os democratas socialistas que não gostam das medidas do governo? Apenas ouvi dizer que Correia de Campos vai propor uma discussão sectorial sobre política de saúde.
E os outros sectores, estão todos satisfeitos?
Não há debate interno nem externo. Mas a responsabilidade é de todos. E muito particularmente dos militantes socialistas.
Há dias em que o optimismo é um exercício totalmente impossível.
Continuamos a ouvir manifestações contra as aulas de substituição (medida que alguns professores boicotam ao “entreter” alunos com jogos e outras inutilidades, em vez de desenvolverem o tão falado trabalho educativo), promessas de luta a medidas que pretendem colocar os professores nas escolas, o seu local de trabalho, em tempo de férias lectivas (Natal, Carnaval, Páscoa e Verão), para desenvolverem trabalho que não seja apenas o de leccionar.
Ouvimos clamar contra o novo estatuto da carreira docente, pela impossibilidade de todos os professores, maus, bons ou assim-assim, chegarem ao topo da carreira e pela necessidade (oh, horror!) de avaliações para progressão.
A Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública convocou uma greve de 2 dias porque (...) O Governo não pode continuar a atacar impunemente as condições de vida e de trabalho e a dignidade dos trabalhadores, para favorecer os grandes grupos económico-financeiros! (…) Para que isto assim seja, o Governo PS/Sócrates tem que tirar poder de compra aos trabalhadores e aos reformados, tem de acabar com direitos sociais, degradar a Segurança Social e os Serviços Públicos eentregar as partes rentáveis ao grande capital, tal como exigiu a irmandade do Compromisso do Beato, em propostas que a CGTP não hesitou em classificar de terroristas. (…) Os objectivos nefastos do Governo manifestam-se em todas as áreas da Administração Pública (…) Na Justiça, com umataque aos Tribunais e às independência das Magistraturas e dificultando, quando não impossibilitando, a acesso à justiça aos mais desfavorecidos; (…) Nas Autarquias Locais, com alimitação ou a retirada de autonomia do poder localdemocrático.(...) (destaques meus).
Os sindicatos, ao contrário do que é a sua obrigação, transformam num ridículo absoluto as verdadeiras e justificadas apreensões de quem trabalha.
Se eu conhecesse as partículas sensoriais do saber, as minúsculas moléculas da emoção, jogaria com os olhos nos tabuleiros do poder, para sobreviver. Sem medo e sem vontade por já antever a claridade, nem o tumulto do espanto de mim desdenharia.
Se eu refundasse as infinitas certezas da dor, desfaria um a um os bagos da memória, para que na eterna ansiedade de querer, provasse um instante
Na reprodução humana um zigoto é uma célula resultante da união entre dois gâmetas: um óvulo (feminino) e um espermatozóide (masculino). Esta célula (ovo ou zigoto) após várias divisões celulares, resulta num embrião, estádio em que o corpo formado é pluricelular e se diferencia nos vários tecidos e órgãos necessários a um novo indivíduo. Este período, a embriogénese, dura 8 semanas, contadas a partir do momento da fecundação (união física do óvulo com o espermatozóide)*.
A seguir a esta fase, inicia-se um período de desenvolvimento intra-uterino (cerca de 30 semanas) em que o novo indivíduo, o feto, cresce e matura os tecidos e os órgãos, até que os mesmos assegurem a sua sobrevivência de uma forma autónoma, fora do útero materno.
O ovo é uma célula que transporta em si uma informação genética e um potencial de desenvolvimento único e irrepetível, que pode resultar num ser humano, caso todas as outras etapas sigam o seu curso e não sejam alteradas. Assim, é um projecto, ainda não concretizado, de um ser humano, da mesma forma que qualquer outra célula de um indivíduo, também pluripotencial e com a totalidade da informação genética, pode ser considerada um projecto de ser humano, neste caso idêntico (geneticamente) ao indivíduo dador da célula.
Se reduzirmos a argumentação do início da vida ao absurdo, chegaremos rapidamente à conclusão de que qualquer operação cirúrgica ou, mais prosaicamente, o simples acto de cuspir, ao inutilizar (ou matar) vários milhares de células pluripotenciais, é um homicídio, mesmo que involuntário.
Mais do que a evidência científica de quando se deve considerar o início de uma vida humana, se na sua concepção, se durante a embriogénese, o que cada um de nós deve resolver consigo próprio, é se um projecto de vida, único e irrepetível, deve ser levado até ao fim.
Essa responsabilidade pode ser partilhada mas, em última análise, é sempre individual e intransmissível, como individual e intransmissível é, até aos dias de hoje, a experiência da gestação e do parto.
Por isso a despenalização da interrupção voluntária da gravidez é a aceitação de que cada um de nós, com a sua genética, com o seu corpo, com a sua educação, com a sua cultura, com o seu ambiente amoroso, familiar e social, deve assumir essa responsabilidade que, como em todas as circunstâncias em que algo de seminal se trata, é total e dolorosamente solitária.
*Como, na maior parte dos casos, não é possível saber com segurança, a data exacta da fecundação, o tempo de gestação é contado a partir da data da última menstruação, o que resulta num aumento de 2 semanas – a ovulação dá-se mais ou menos 2 semanas depois do início da menstruação.
Os relacionamentos humanos são habitualmente pautados pela constância, fidelidade e lealdade. Biologicamente, o equilíbrio é sempre o objectivo, e a manutenção de um estado basal de felicidade, controlado e alimentado pelas substâncias químicas que nos regulam, é condição necessária para uma expressão benigna de emoções.
Por isso os seres humanos tendem a manter as relações, seja com os membros da família, com os companheiros amorosos, colegas de trabalho, seja com entidades mais vagas e de contornos mais difíceis de definir como empresas ou o seu país.
Mesmo que ao longo do tempo a relação sofra revezes, todos tentam, por acção mas mais por omissão, regressar ao equilíbrio desejado. O problema é a existência de memória e de imaginação.
Quando os acontecimentos são repetidos, quando o desequilíbrio é sempre num determinado sentido, há uma exaustão das hormonas da felicidade, que reduzem a tolerância à agressão e reduzem a capacidade de imaginar soluções alternativas.
Se neste quadro de fundo, houver uma súbita lesão somativa, mesmo que, em absoluto, ela seja negligenciável, pode resultar na aniquilação da relação, da qual só se sai em rotura.
As últimas sondagens, como afirma Tiago Barbosa Ribeiro no seu post, não me parecem reflectir ainda o tal desequilíbrio resultante de agressões constantes e repetitivas, a que o corpo do país tem sido submetido durante esta governação.
Mas é bom que o governo cuide da sua relação com o povo. Porque pode suceder que, quando se der conta, as glândulas já não tenham nada para segregar e qualquer pequena traição redunde em divórcio litigioso.
Caminho devagar sustendo a respiração sustendo o corpo nos ruídos das pedras. O dia já não espera e a noite enlutada chora gota a gota as letras do teu nome uma senha de luz e de cor que tarda em madrugar.
Caminho devagar e paro a todas as portas que se erguem blindadas e surdas aos meus passos. E a noite arrepiada sacode o teu nome como senha para abrir as janelas que me faltam.
É verdade que os bancos, apesar do aumento da percentagem de crédito malparado, continuam a ter lucros fantásticos e que, se investem o que investem em publicidade ao crédito, para férias, para telemóveis, televisores, sofás, computadores, automóveis e casa, é porque o que perdem é irrisório em relação ao que ganham.
É verdade que a violência, seja ela de que tipo for, que algumas empresas de cobranças difíceis utilizam para “incentivar” a liquidação de dívidas, à banca ou a outros agentes que emprestam dinheiro a juros, é totalmente inaceitável.
Mas também me parece estranho que quem contrai empréstimos e deixa de os pagar não recorra a todos os meios possíveis e a todas as ajudas existentes para pagar as suas dívidas. Dá-me a sensação de que se reteve a mensagem de que não faz mal gastar mais dinheiro do que o que se tem, de que é obrigatório consumir determinado tipo de coisas, de que não é necessário estabelecer prioridades, pois pode sempre pagar-se a partir do próximo ano, sem juros, ou ter à disposição imediata 3000€, para não ter que se optar entre a mobília nova e as férias na Tailândia.
Na verdade, quando falamos de Estado, esquecemos que o Estado é uma entidade colectiva, formada por todos os cidadãos.
(o anúncio do Joe Berardo é absolutamente repugnante!)
Escapam-me a relevância de alguns temas que escolhidos como para notícia desenvolvida e com direito a muitas páginas de jornais.
No Público de Domingo vinha um extenso trabalho jornalístico, de Kathleen Gomes (Foram ustedes que falaram em unión? – link não disponível) sobre o facto de um grande número de espanhóis (cerca de 40%) e de um menor número de portugueses (cerca de 25%) suspirarem pela união dos dois países.
Sugiro humildemente que o próximo tema a tratar seja a discussão do regime político: monarquia ou república? Parece-me tão importante como a inclusão de Portugal em Espanha.