por Sofia Loureiro dos Santos, em 02.07.06
QUANDO
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.
(poema de Sophia de Mello Breyner Andresen; desenho de Arpad Szenes: Sophia)
Como todos os dias, as rotinas são as mesmas. Só o sol falhou, neste domingo de preguiça. Na qualquer superfície em que mentalmente me deito, volto-me para o outro lado, aconchegando virtualmente a manta. Hoje é um dia de memórias.
Quem era aquela mulher franzina, com o porte de uma deusa, tal como elas nos aparecem quando escrevemos poemas?
Quem era aquela musa, cuja voz planava pelos limites da música?
Sílaba a sílaba soletro o seu nome. Um vago murmúrio de ondas mergulha na minha paz.