por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.05.06
A propósito do Dia da Mãe, e embora não me reveja em 100% do que diz, o artigo de Helena Matos “Dias assim” no “Público” de hoje, é brilhante.
O exagero, o politicamente correcto, o pensamento dogmático pseudo científico demonstram-se em toda a sua plenitude em temas como a maternidade e a paternidade. As regras, as necessidades, o comércio à volta das mães, das crianças, dos bebés, das roupas, dos carrinhos, dos automóveis espaçosos, das chupetas, da amamentação, da comida, da posição para dormir, do tabaco, do álcool, da comida saudável e das caminhadas, das fotografias das ecografias e dos filmes das ecografias, dos acompanhamentos dos pais às consultas, enfim, de todas as obrigações e proibições que rondam quem pensa ter filhos, transforma o que é natural numa empresa dificílima. Tudo serve para culpabilizar as mães, os pais e a sociedade em geral pela incapacidade em ter dado amor, coisas e filhos à nação.
Isto para já não falar da própria decisão em ter filhos. Se não acontece no mês programado para o efeito ou, pior ainda, nos 6 meses seguintes, acciona-se toda a parafernália da infertilidade, como posteriormente, se acciona outra parafernália para a hora marcada do nascimento.
Nem tudo se compra nos supermercados, nem tudo se programa à hora, minuto ou segundo, não se é criminoso por beber vinho ou comer doces durante a gravidez, ou por não ter uma loja de bebés dentro de casa, uma carrinha e uma casa de quatro assoalhadas. Não se é mau pai por se não ter acompanhado a mãe a todas as consultas de gravidez nem a todas as consultas do primeiro ano de vida dos rebentos. Era preferível que o pai tomasse conta, sozinho, de algumas consultas posteriores, conversas com professores na escola, ou compra de sapatos quando é preciso, mudança de fraldas, banhos e refeições, etc.
Como Helena Matos diz, os antigos dogmas são substituídos por novos dogmas. A maternidade e a paternidade, a decisão de ter muitos, poucos ou nenhuns filhos, está cada vez mais legislada, compartimentada e espartilhada, pertencendo cada vez menos aos próprios.
Claro que todas estas preocupações existem na sociedade da abundância, em que há cada vez mais carência de bom senso!