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O Guardador de Rebanhos (IX)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 22.02.06

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

(poema de Alberto Caeiro; fotografia do seu caderno, na página deste poema)

Para os amantes de Fernando Pessoa e de Alberto Caeiro, descobri um site fascinante e viciador.

Há algumas pessoas que são, ou foram, geniais: Leonardo da Vinci, J. S. Bach, Antoni Gaudí, Salvador Dali, Fernando Pessoa, só para citar alguns.

Alberto Caeiro é um dos meus heterónimos favoritos. Este site é indispensável e comovente. (http://purl.pt/1000)

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publicado às 22:19

Estradas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.02.06

Abro os olhos devagar,
palavras atropelam e misturam
os últimos suspiros do sono.
Saio de casa a navegar,
entre o céu e a terra as nuvens
despejam a náusea.
Entro no carro e deslizo,
além da estrada
a luz do sol.

(pintura de Wendy White)

Outra vez os professores e os sindicatos e as aulas de substituição. É penoso ouvir os que se dizem representantes de uma classe profissional dizer tantas banalidades, tantas palavras seguidas sem significado.

Os defensores da autonomia das escolas e dos projectos educativos não são capazes de conceber e organizar actividades, lectivas e não lectivas, que ocupem os estudantes durante os “furos”? Ou será que entendem a escola como um lugar onde se está, ocasionalmente, a debitar ou a receber aulas?

Estes são problemas repetitivos e enfadonhos. Dá a sensação que não se aprendeu nada! Espero que a Ministra da Educação não ceda.

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publicado às 22:08

As árvores

por Sofia Loureiro dos Santos, em 19.02.06

As árvores,
solitário abandono
dos desejos,
esperam ao crepúsculo,
que alguma asa
as acaricie.
Voraz, na rapidez
da paisagem,
o murmúrio do silêncio.

(fotografia de Hugo Madeira)

As buscas, com a consequente apreensão de material na sede do jornal “24 horas”, embora arrepie os cabelos, mesmo sem se saber porquê, não pode ser comparável à coarctação da liberdade de expressão.

Apesar de todos os atropelos, quero acreditar que estamos num estado de direito, e que foram mandados judiciais que, no âmbito de uma investigação e dentro da lei, permitiram as referidas buscas, e que todo o material apreendido será tratado, mais uma vez, de acordo com a lei.

Na verdade, ninguém deve estar acima da lei. Infelizmente, os precedentes não são de molde a tranquilizar-nos. Está tudo muito mal explicado e agrava-se a desconfiança no nosso sistema judicial.

Hoje comprei “A velocidade da luz”, o último livro de Javier Cercas publicado entre nós. Li “Soldados de Salamina” de uma assentada e gostei muito. Já “O inquilino” não me deixou grandes saudades. Vamos ver. O tempo convida a ler, enrolada numa manta, com uma chávena de chá ao lado. Boa vida!

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publicado às 18:12

Serviço Nacional de Saúde

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.02.06

Confesso que, para mim, é difícil discutir a gratuitidade e a universalidade do serviço nacional de saúde (SNS). De todos os papéis que atribuo ao estado, a garantia de prevenir a doença e de tratar os doentes, é dos mais importantes.

O aumento da esperança de vida aliado ao crescente recurso às novas tecnologias em diagnóstico e terapêutica, cada vez mais dispendiosas, disponíveis para quem precisa e não apenas para uma minoria que os possa pagar, pressionam os orçamentos que parecem sempre limitados.

Não se vê, portanto, no horizonte próximo, qualquer possibilidade, de diminuir o peso da despesa no sector da saúde. Pelo contrário, é previsível que continue a aumentar.

Então, como resolver este dilema?
Se calhar, redefinindo as obrigações do estado, para que se concentre naquilo que é mais importante.

Depois, na racionalização dos recursos técnicos e humanos, para tornar o sistema mais eficiente:
- acabar com as urgências mal equipadas e que não resolvem os casos urgentes, abertos 24 horas para atenderem (mal) 3 casos;
- formar unidades de urgência com profissionais especializados; acabar com o pagamento em horas extraordinárias daquilo que deveria ser feito durante o horário de trabalho;
- concentrar os meios em vez de os dispersar;
- premiar quem trabalha e punir quem o não faz;
- informatizar os serviços de modo a libertar o tempo dos profissionais e impedir a multiplicação inútil de informação;
- promover uma verdadeira competição entre o público e o privado, separando definitivamente os 2 sectores;
- investir nos cuidados primários de saúde;
- continuar a alteração da política do medicamento, liberalizando o sector farmacêutico, incentivando o mercado de genéricos, nomeadamente com a obrigatoriedade da prescrição por princípio activo. etc, etc, etc.

Ideias não me faltam!

O SNS já é financiado pelos cidadãos, não só indirectamente, com os impostos, mas também directamente, nos medicamentos, cuidados dentários e outros.

Se este não for o entendimento deste governo socialista, começo a questionar-me para que servem, de facto, os impostos que pago.

(pintura de Frida Kahlo)

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publicado às 11:59

Politicamente correcto

por Sofia Loureiro dos Santos, em 15.02.06
Sempre me fez alguma confusão a necessidade que certas pessoas têm de demonstrar que são originais o que, em si mesmo, é a demonstração inequívoca que o não são.

Neste momento já há quem ache um horror dizer mal do Freitas, coitado, que mal! Agora já é giro ter pena dele e passar para outra notícia mais fresquinha.

Freitas do Amaral deve estar em fase de loucura, ou então não consigo entender as posições dele (ou do governo?). Um campeonato de futebol euro-asiático??? Então agora o embaixador do Irão diz coisas lamentáveis e está a reescrever a história? Qual a atitude a tomar?

E deve esquecer-se o assunto Freitas do Amaral? De facto, nada se leva a sério. Os temas surgem como bombas ruidosas, causam grande histeria e alarido, e imediatamente são descartadas por outras. Mastiga e deita fora.

À falta de oposição ao governo (o PSD está totalmente adormecido) temos uma profusão de reportagens imparciais e bem feitas, com estudos prévios e ponderação de todos os factores, prós e contras, de medidas importantes e de fundo, como o fecho de escolas do 1º ciclo.

É extraordinária a manipulação da informação. No fórum TSF desfilou uma enorme quantidade de gente a perorar contra a medida, ajudada por reportagens em cima do acontecimento, onde não se abordaram nunca as razões de natureza demográfica, alteração do número e da faixa etária dos residentes em determinadas regiões, a degradação da qualidade do ensino em escolas com escasso número de alunos, a diminuição da exigência, com professores que lá estão o mínimo de tempo indispensável, sem colegas para trocar impressões, a solidão dos alunos, a falta de materiais escolares ou do mínimo conforto, a despesa para manter, mesmo assim, a escola a funcionar, etc.

Também há pouco tempo se ouviu falar de uma manifestação contra o fecho dos hospitais do Desterro e Capuchos. É absolutamente inacreditável! Sempre ouvi profissionais queixarem-se da absoluta falta de condições destes hospitais, da estupidez de se gastar dinheiro a tentar adaptar espaços inadaptáveis, da dificuldade em manter estas estruturas velhas a funcionar como serviços decentes.

Eis senão que… agora estão contra!

O país de hoje não é igual ao que era há 30, 40 anos atrás. Houve populações que cresceram outras que quase desapareceram. A pirâmide etária é diferente, as necessidades e as exigências das populações também. Há, com certeza, necessidade de mudar, se calhar de acabar com algumas freguesias e concelhos e aumentar outros, fechar escolas, hospitais e outros equipamentos e abrir, noutros locais, serviços mais eficientes e bem apetrechados. Prover ao transporte rápido e seguro das crianças para uma escola com espaço físico e capital humano, por exemplo, essa é uma preocupação que não ouvi ninguém expressar.

Enfim, o estado tem que se reorganizar para nos servir melhor.

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publicado às 21:39

...

por Sofia Loureiro dos Santos, em 14.02.06

Hoje é mais um dia para te amar.

(Gustave Klimt)

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publicado às 19:10

...

por Sofia Loureiro dos Santos, em 14.02.06
Não sou particularmente fã de comemorações e efemérides: Padre Manuel Antunes, Prof. Agostinho da Silva, pessoas de quem pouco se sabe ou fala e que, depois de morrerem, ocupam, em datas determinadas, as primeiras páginas dos diários e as aberturas dos telejornais. Durante três ou quatro dias todos os conheceram e admiraram, recordam-se as vidas daqueles quase santos, ou definitivamente santos, para se esquecerem imediatamente a seguir, sem ficarem no imaginário colectivo, nos livros da escola, na memória de quem não foi seu contemporâneo.

Portugal não reconhece os seus valores, enquanto vivem, e não sabe enaltecê-los, depois de mortos. Mastiga-os em efemérides grandiloquentes e bacocas, o contrário do que os personagens homenageados representavam, arrasando a sua modéstia, transformando-os em “gente da moda”, tão perecíveis como a própria moda.

Mereciam mais dos seus concidadãos.

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publicado às 19:01

À beira do abismo (2)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.02.06

Começo a cultivar o espaço,
de livros, de flores,
de mim.

Nem pássaros, nem rimas,
letras que se posicionam,
como lhes apetece.

A janela vê mais
do que mostra,
de mim.

(pintura de Ndambo)

O mundo está inquieto, ansioso, perigoso. O clima está afectado, a poluição aumenta, os pobres são muitos, cada vez mais, cada vez mais pobres, multiplicam-se doenças potencialmente catastróficas, a fome mantém-se a mais catastrófica. Quando se descrê da vida, passa a crer-se na morte e os moderados tornam-se fanáticos.

O mundo que nós conhecemos, nós, os privilegiados, está à beira do abismo. O resto do mundo continua no abismo, mesmo que o defenda.

Saberá alguém como evitá-lo? Ou transformá-lo?

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publicado às 21:30

À beira do abismo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.02.06
Temos um Primeiro-Ministro muito silencioso, mesmo quando os segundos ou terceiros fazem um ruído aterrador.

Temos um Presidente que, qual triste menino bem comportado, vai dizendo, quase a medo, algumas verdades a que ninguém dá importância.

Temos uma Assembleia da República, onde estão os representantes da nação, que fazem birras e apontam dedos acusadores a quem diz o que pensa.

Sempre é verdade que os números do desemprego estão a ser manipulados? E que se passa com o urgentíssimo e rigorosíssimo inquérito às listas de telefones de altas entidades, que estavam sob investigação? Souto Moura ainda existe? E não pintou a cara de preto? Ou seja, ainda tem cara?

E o MIT, José Tavares, Mariano Gago e outros? Em que ficamos?

Enfim, por vezes é difícil acreditar que o país já existe há 800 anos. Parece que está sempre à beira do desmoronamento!

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publicado às 17:52

Risus

por Sofia Loureiro dos Santos, em 12.02.06

Sobremesa

Quando a melancolia enche o sol, o esvazia do
seu brilho, faz baço o amarelo do rebordo, apaga
os fios de fogo que da sua esfera fulgem, pego
nele e ponho-o na travessa do bolo. Com a faca,
corto-o; e ofereço-te
uma fatia de sol, que levas à boca; e ele volta a brilhar,
iluminando-te os lábios, os olhos,
o rosto. Então, beijo-te; e é como se
tocasse o sol; como se a sua chama me queimasse,
sem doer, ou como se a sua luz entrasse por dentro
de mim, quando a sobremesa
chega ao fim.

(poema de Nuno Júdice; pintura de Steve Falkenberg)

Se existe, esse ser inominado e eterno, criador e destruidor, de coisas e sentimentos, de matéria e almas, se existe, nalguma molécula do seu imaterial corpo, há-de encontrar-se uma centelha, um átomo, um conjunto proteico, um gene, que codifique o riso.

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publicado às 21:34



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