por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.02.06
Coitado de quem não pode – assim se diz em bom português, com o trinado do fado na voz.
Mas assim se faz em Portugal.
Que fazemos, todos nós, a quem chamamos Estado, a todos os que, por infortúnio da sorte, deles e das suas famílias, são órfãos, de vivos e de mortos, sujeitos a maus tratos, pobres, sem referências, sem pais ou mães, ou sem substitutos que se dignem ser pais e mães?
Que fazemos, todos nós, que tanto nos preocupamos com o bem estar, a roupa, os jogos, os computadores, os “hamburgers”, os telemóveis, as chupetas, os rabinhos assados, os banhos, os talcos e as fotografias dos nossos filhos?
Para que servem estas Oficinas de S. José, e os Centros Juvenis de Campanhã, e os Tribunais de Menores, e os Centros de Reinserção Social?
Como alimentamos, tratamos, ocupamos, ouvimos, defendemos, motivamos, disciplinamos, exigimos, amamos estas crianças que nos têm a nós, ao estado, apenas a nós, nos compridos braços dos Directores, Técnicos, Psicólogos e demais profissionais?
Será que lhes ligam, que lhes apertam os sapatos, limpam os narizes? Será que lhes perguntam onde estiveram, conhecem os seus companheiros, sabem os seus dias de aniversário? Será que lhes ralham, lhes pedem mimos, lhes dão mimos?
Que fazemos, todos nós, às nossas crianças, aquelas que são filhos de quem não os quer?
(pintura de Adam Saiter: all the children are insane)