por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.01.06
Nós mudamos todos os dias; o mundo muda todos os dias e até Portugal se vai modificando. Se compararmos o país de hoje com o que existia há 25 ou 30 anos, a diferença é enorme. Temos melhor qualidade de vida, mais acesso aos bens de consumo, mais informação, enfim, no geral vivemos melhor.
No entanto o país modificou-se demograficamente. Passámos a ser um país de imigração, a população envelheceu e distribuiu-se maioritariamente pelos grandes centros urbanos do litoral.
Não tem sido feito nenhum esforço de reorganização do território, não só no que diz respeito à implementação de medidas que promovam a descentralização e o desenvolvimento do interior, como também no redimensionamento dos serviços relativamente às necessidades reais das populações.
Muito se tem falado sobre o fecho de maternidades e de serviços de urgências nos centros de saúde. A realidade é que não será nunca possível reestruturar o atendimento nos serviços de urgência enquanto não se resolver o problema dos cuidados primários. O recurso à urgência deve ser apenas para as situações, de facto, urgentes. É claro que para quem está doente, a situação é sempre urgente. Mas se houver a possibilidade de recorrer a um médico com rapidez, esse médico será quem melhor pode avaliar a gravidade do caso, e enviá-lo, se for caso disso, a um centro de atendimento suficientemente equipado e com pessoal de saúde mais diferenciado.
A acessibilidade de que falo não tem apenas, nem principalmente, a ver com a distância. Tem a ver com o tempo de espera entre estar doente e ser atendido pelo seu médico. Por outro lado a experiência acumulada é muito importante para a excelência do atendimento. Se um cirurgião não tiver um número mínimo de determinadas cirurgias por ano, nunca adquirirá suficiente experiência para ser um bom cirurgião. O mesmo é verdade no caso das maternidades.
O que é indispensável é assegurar que haja médicos de família que, em tempo útil, atendam os seus doentes, e meios de transporte adequados para que estes possam ser transferidos, também em tempo útil, para centros hospitalares equipados com os recursos humanos e técnicos necessários e suficientes. Um médico ou um enfermeiro que passam uma noite num centro de saúde que não tem um aparelho de RX para radiografar uma fractura, nem um mini laboratório para excluir uma infecção grave, gasta dinheiro e não resolve os problemas aos doentes.
Quando se trata da saúde é na prevenção da doença e no tratamento dos que estão doentes que o estado deve pensar, não nas famílias políticas que ocupam os cargos de Presidentes de Juntas de Freguesias ou de Câmaras Municipais.