por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.11.05

Remo de chuva
Enquanto
meu remo de chuvas
fustiga as canoas de água
na contracorrente
do rio...
à tona
meu corpo nu
no próprio cerco à lascívia
vai-se dando
lânguido
à mar-
gem.
(poema de José Craveirinha, pintura de Malangatana - Moçambique)
É extraordinário o modo como se faz política, em Portugal. O que interessa é estar no governo ou na oposição. Ter ideias ou propostas está na medida contrária à posssibilidade e à responsabilidade de as poder pôr em prática.
Isto a propósito do orçamento, do TGV e do aeroporto da OTA. Independentemente do que cada força política possa dizer, tanto o PSD como o PS já foram a favor e contra. A quantidade de acordos, traçados e estudos àcerca do TGV já davam para construir vários TGVs! Como é que agora o PSD chama ao projecto faraónico se há 1 ano queria avançar? Já agora, para que serve um TGV com 4 paragens tão perto umas das outras?
Relativamente ao orçamento, como é possível arranjar as desculpas dos impostos a aumentar e dos projectos "faraónicos" para se votar contra o orçamento? E depois falam em pactos de regime de que eu, por exemplo, discordo totalmente.
Depois fazem-se grandes palestras a propósito do afastamento que os cidadãos têm da política.
E quanto à coinceneração? Eu ainda me lembro de uma comissão científica independente nomeada pela Assembleia da República que não chegou às conclusões que o PSD queria. E então, a própria assembleia deu o dito por não dito, cobrindo-se de ridículo.
Relativamente ao PCP não aprova porque não.
E a lei da IVG? Vá lá que o PS manteve a promessa do referendo. Sempre achei que o PS nunca deveria ter dito que aceitava o resultado do 1º referendo, fosse ele qual fosse. Na realidade, o referendo teve menos de 50% de participação, logo o resultado não era vinculativo. Nessa altura, o PS deveria ter assumido a sua responsabilidade na Assembleia. Mas como, na realidade, não queria avançar com qualquer lei que despenalizasse o aborto, escudou-se no resultado do referendo.
Mas agora é óbvio que, depois dessa posição, o PS não pode mudar a lei no parlamento, tem que fazer novo referendo, tal como se comprometeu. Todas aquelas trapalhadas ácerca do início e do fim das sessões legislativas foram muito tristes.
Gostei muito do "post" de JMFerreira d'Almeida no blog Quarta República sobre os defensores oficiosos: "...Por isso, há muito que defendo a criação - também por razões de racionalidade da despesa pública como noutra oportunidade tentarei demonstrar - da figura do defensor público, à semelhança do que existe noutros sistemas, ao qual caberia, em exclusivo, a prestação do apoio judiciário..." - estou plenamente de acordo.