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A (des)localização das urgências

por Sofia Loureiro dos Santos, em 04.10.06

O estudo para a redefinição e reestruturação dos serviços de urgência está em debate público. Parece-me um passo indispensável na reforma do SNS.

Já tenho aqui dito e repetido que não há reforma de urgência que resulte se, em primeiro lugar, não forem reformados os cuidados primários, Centros de Saúde (CS) ou Unidades de Saúde Familiares (USF) ou seja, se o acesso dos doentes ao seu médico não for rápido e atempado e se não houver capacidade para satisfazer o mínimo de exames complementares de rotina sem recorrer ao Hospital.

A grande maioria das situações que levam os doentes às urgências hospitalares são situações que poderiam e deveriam ser resolvidas em consulta.

Por isso estou esperançada nas USF, por isso estou esperançada na reforma das urgências. A divisão entre Serviço de Urgência Básica (SUB), Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (SUMC) e Serviço de Urgência Polivalente (SUP) parece-me lógica. A hierarquização do nível de cuidados médicos necessários e a concentração de meios técnicos e humanos em unidades de referência é uma forma acertada de especializar (desde que se caminhe para serviços especializados de urgência, com pessoal formado e remunerado para tal) e de rentabilizar os parcos recursos existentes.

Mas a notícia de que há cerca de 1 milhão de portugueses a mais de 45 minutos de um SUP é inaceitável.

Espera-se de um estado em que todos os cidadãos pagam impostos para assegurar determinados serviços, nomeadamente o serviço de saúde, que não haja portugueses de primeira – os que vivem junto a centros urbanos – e de segunda – o que vivem no interior desertificado. Mais de 45 minutos pode ser a diferença entre a vida e a morte. Mesmo que seja caríssimo, o estado tem que prover ao bem-estar da população.

Os peritos fizeram o seu papel: analisaram tecnicamente a situação e propuseram soluções técnicas. Do estado espera-se uma solução política, que tenha obviamente em conta o relatório e a recomendação dos peritos, mas que tenha em conta o seu papel equitativo e de garante da saúde de todos os cidadãos, sem distinção.

Por estado entende-se governo e autarquias. Em vez de desatarem aos gritos e a promover manifestações histéricas e demagógicas, devem, todos, sentar-se à mesa e procurar as melhores soluções.

Atrasar o fecho das urgências nessas zonas, investir em ambulâncias de emergência e em pessoal qualificado para acompanhar os doentes, em helicópteros, dotar os SUB e os SUMC dessas zonas de meios de consulta rápida on-line, enfim, posso lembrar-me de várias modalidades.

Mas é imprescindível que isso aconteça e que não se olhe esse milhão de pessoas como apenas 10% da população. E parece-me que até ao fim de Outubro é pouco tempo para discutir este problema.

Teimosamente continuo a acreditar que este governo é mesmo socialista. Este é um momento óptimo para o demonstrar.

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publicado às 19:45


4 comentários

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De Sofia Loureiro dos Santos a 11.10.2006 às 19:05

O que diz é verdade, Anonymous, não se fabricam médicos. Enquanto os critérios de entrada nas faculdades não forem diferentes, nada feito!
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De Anónimo a 10.10.2006 às 23:56

a minha experiência é : Os cuidados de saúde atempados existem para os médicos e outros funcionários do SNS.
Os utentes..,esses ficam para trás.
Hà falta de médicas e por isso não hà cuidados de saúde primários.
Um dos problemas é o estrangulamento das entradas em medecina.
sem ovos não se fazem omoletes.
Podem fazer as reformas que quiserem mas se não existerem mais médicos, nada melhora.
Sei do que falo
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De Sofia Loureiro dos Santos a 05.10.2006 às 15:46

Infelizmente partilho, em momentos mais deprimidos, da sua opinião. Noutros, espero melhorias, espero, por exemplo, uma descentralização... Sonhos!
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De Silvares a 05.10.2006 às 12:36

O problema é que Portugal parece ser, cada vez mais, um fantasma ou uma miragem vista do litoral.
Este governo apenas vem continuar a obra, com quase 900 anos, de tentar apagar o nosso país de si próprio.
O que virá substituí-lo? Isso não sei.

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