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Dos vários tipos de oração

por Sofia Loureiro dos Santos, em 19.09.13

 

Bansky

 

 

Repetir sempre que os ombros se curvam

 

Tem que haver um outro país, uma outra gente. Tem que haver uma outra Europa, um outro mundo.

Não é verdade a tristeza e a desesperança. Não é verdade a pobreza e a insegurança.

Tem que haver um outro sonho, uma outra certeza.

Sabemos que é possível, sabemos que o ruído dos fatos surdos, os gestos e os sorrisos mudos de quem coordena marionetas, podem mudar. 

Sabemos que tudo muda. Basta juntar os sinos e repicar. Basta juntar as mãos e resistir. Basta abrir a estrada e caminhar. 

Tem que haver um outro viver – vamos lutar.

 

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publicado às 21:03

Marcas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 07.09.13

 

Valérie Buess 

 

 

As marcas na madeira como escrita

de vidas sem história.

Estendo-me à beira do rio plantada

de ervas e raízes. Agarro a terra

macia e fácil. Presa estou nos braços

de quem me liberta.

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publicado às 21:50

Corridinho de Belém

por Sofia Loureiro dos Santos, em 22.07.13

 

 

 

E vai de roda o meu país

corridinho já lá vem

ora ouçam o que ele diz

microfone de Belém.

 

Vai um passo mais à frente

e três passos mais atrás

um coelho de repente

dá um pulo para trás.

Abre portas sem receio

nesta dança de pigmeus

fecha as portas do recreio

ai Jesus valha-me Deus.

 

E vai de roda a contradança

neste vira de espantar

sai da roda a esperança

sem vislumbre de voltar.

 

Soa agora o cavaquinho

vai de roda até fartar

parte a asa pucarinho

que a ordem é casar.

Se é feio e desdentado

tu és coxo lá do siso

vade retro ó danado

que de ti já não preciso.

 

E vai de roda o meu país

corridinho do desdém

ninguém liga ao que ele diz

microfone de Belém.

 

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publicado às 16:46

Sílabas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.06.13

 

Almada Negreiros

Partida de Emigrantes

 

O meu país divide-se em sílabas

- por - ele tudo de nada acontece. Afunda-se

encolhe-se enruga-se esvazia-se em gente

mole e arrastada – tu - e eu manchamos a terra.

O meu país divide-nos e abre

os rios por onde se espalha e cresce

em múltiplas sílabas de dor – gal - de fim

afinal

Portugal.

 

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publicado às 18:03

A luz

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.06.13

 

Laury Dizengremel

 

Tenho tanta pressa no apagar

dos sentidos no reacender da alma

que me foge como se quisesse fintar

o tempo que me falta a luz

que incendeia o teu olhar.

 

 

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publicado às 18:59

Folhas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.06.13

 

Grant Berg 

 

Aproximo-me da noite em caminhos de curvas

mas na estreita direcção do tempo. A distância

encurta os passos alongados das árvores

que em ciclos de folhas refazem a eternidade.

 

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publicado às 18:40

Esquinas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 08.06.13

 

Eva Rothschild

 

Procuro arder no gelo que à minha volta

forma gotículas de sangue e adormecimento.

 

Encontro chamas de aço em irracionais amarras

que no absurdo das esquinas abrem abismos.

 

Sem braços que empurrem nem ombros

que levantem a eterna condição de querer.

 

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publicado às 23:11

Alongar

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.05.13

 

 

Tejo 

 

 

1.

Inclinada a cidade esvai-se

sangra pelas ruas em pedras rolantes

e passos cansados exausta

de mundo de inverno de pó.

 

2.

Ficamos sentados à beira do tempo

desistentes da vida assistimos

ao dobrar dos troncos

ao vergar das nuvens.

 

3.

Desenhei num mapa que só tu entendes

os cruzamentos em que alongamos

imensas e surdas despedidas.

 

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publicado às 21:23

Vozes

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.05.13

 

Wendy Dunder

 

Sabia que a olhavam de lado, como a uma louca. Sabia que era louca, mas apenas por ser racional.

 

Começou a falar consigo desde muito cedo. O silêncio da casa, o enorme espaço vazio à sua volta, a todas as horas do dia, em todos os gestos que ecoavam a solidão. Parecia que as vozes dentro de si rebentavam, enchiam o mundo, entonteciam. Não conseguia distinguir os pensamentos dos sons exteriores a si, do mundo.

 

Falar consigo materializava alguém que lhe era intrínseco e que, no entanto, não conhecia. Não precisava de ter um interlocutor, não precisava que se sentasse ao seu lado, que anuísse ou discordasse, que lhe lesse passagens de um livro, que lhe apreciasse a comida, que necessitasse de companhia.

 

Falar consigo dava-lhe conforto e segurança. Era como uma cadeira que esperava pelo seu descanso.

 

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publicado às 17:15

Mistério segundo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.04.13

 

milagre

Gao Xingjian

 

Segundo mistério o homem desaba entre

os muros de uma cidade sitiada. À volta

fervem vapores sulfúricos gritam mil cabeças de ganso.

Segundo o mistério que nos desequilibra vale mais

a acidez de uma queda que a extrema volatilidade

das almas.

 

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publicado às 16:10


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