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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
E se fosse reduzido o horário de trabalho semanal?
E se as reformas fossem incentivadas um pouco mais cedo?
Não seria uma forma de melhorar o demprego e reanimar a economia?
O que seria extraordinário e verdadeiramente miraculoso era a Geringonça, em cerca de ano e meio, recuperar o País da devastação em que os 4 anos de governo PSD/ CDS o deixou.
Eu ainda me lembro do Programa de Emergência Social, apresentado pelo governo PSD/ CDS. Esse plano tinha como objectivo minorar o impacto da crise nos segmentos mais desfavorecidos da sociedade.
No estudo tornado público pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, é bem patente quais os segmentos da sociedade que foram mais poupados durante a crise. Vale a pena visitar o site e meditar na tremenda hipocrisia de quem está agora tão preocupado com a hipótese de redireccionar os custos da crise para o sector minoritário que mais ganha, em Portugal e que, em termos percentuais, menos contribui com os seus impostos.
Christine Lagarde
Afinal parece que as pessoas e os partidos que defendem e sempre defenderam uma reestruturação da dívida têm e tinham razão.
Quais vão ser as consequências? É agora que se vai avançar para a reestruturação da dívida? É agora que finalmente a Comissão Europeia vai fazer marcha atrás em relação à política que impôs nos últimos anos?
E se começássemos a falar de impostos mais progressivos para que quem mais tem seja quem mais pague? E se começássemos a falar da taxa Tobin? E se começássemos falar da redução dos horários de trabalho, não para 35h mas para 30h por semana, no público e no privado? E se começássemos a falar da renovação geracional dos quadros? E se começássemos a falar do aumento de emprego que isso significaria com a consequente melhoria na qualidade de vida, aumento da participação contributiva, perspectiva e segurança de emprego, para que as gerações que esperam indefinidamente a sua vez possam não ter que adiar cada vez mais a vontade de serem independentes, responsáveis, cidadãos activos, fundarem famílias, terem filhos? E se começássemos a pensar em investir na cultura, apostar na música como um elemento fundamental na educação e desenvolvimento das crianças e adolescentes?
E se retomássemos a ideia de procurar financiamentos para suprir as necessidades dos cidadãos em vez de as reduzirmos ao dinheiro existente? Não é assim que os empreendedores fazem? Não é isso o empreendedorismo?
Acabei de receber uma mensagem no telemóvel, da Vodafone:
Última hora: S&P sobe rating e quer as mesmas políticas depois das eleições. Observador http://vfpt.pt/uh
Não somos nós que decidimos. É a S&P.
Pode ser que tenha uma bela surpresa.
A S&P e o Observador.
Martin Schulz fala em governo tecnocrata na Grécia se o “sim” vencer o referendo
Se o “Não” ganhar, gregos terão de introduzir nova moeda
É muito difícil decidir o que eu, caso fosse grega, responderia à pergunta que se faz hoje a todo o povo grego - aceito a proposta dos credores ou não aceito? Esta é a dúvida. No entanto toda a direita europeia a transformou numa noutra - quero ou não sair da União Europeia?
É claro que a primeira pergunta pode condicionar o resultado implícito na segunda. Pelo menos é isso que a direita europeia quer que todos sintam e receiem.
O medo. O medo de rejeitar uma política de empobrecimento e de destruição dos valores democráticos. Os países deixaram de ser donos do seu destino, as eleições para os parlamentos nacionais transformaram-se numa caricatura da democracia pois ninguém, nas mais altas instâncias europeias, tem a mínima intenção de respeitar seja o que for das escolhas eleitorais, caso elas não sejam consentâneas com a ideologia dominante.
O medo. É nisto que se baseia a relação entre as Instituições europeias e os povos que deveriam representar.
Olho para a minha forma de encarar a vida e sinto-me tantas vezes medrosa, tantas vezes de uma moderação que não cabe bem na minha natureza bipolar e impulsiva. Mas também sei que há alguns limites que, ao contrário de algumas figuras nossas conhecidas, não ultrapasso.
E esta é uma delas. Não é possível continuar a ignorar o atropelo democrático que se tem verificado na Europa, condenando os países e as suas populações à miséria, sem que tenham quaisquer hipóteses de mudar o seu destino. Gente hipócrita, que obriga nações inteiras a fingir que não existem ou nunca existiram, gente ignorante e arrogante, que vive em mundos paralelos sem contacto com a realidade, gente perigosa que decide o destino daqueles que, diariamente, contribuem com o seu esforço e trabalho para que haja alguma esperança de felicidade.
Por isso, muito provavelmente, se fosse grega, votaria hoje não. E tenho muita pena que as explicações do PS, que tenta a moderação sobre todos os assuntos difíceis, ao contrário da clareza e da assertividade, que tenta o equilibrismo quando se desejaria um mergulho, ou um salto, ou asas para voar, se enrede em palavras de circunstância, sem que ninguém perceba exactamente a sua posição. E isto é verdade tanto em relação à candidatura presidencial, como ao problema da Justiça, à herança dos anteriores governos de Sócrates ou à crise grega. Por medo.
O governo grego mostrou que é possível ter uma voz diferente na Europa, defender os interesses do seu povo sem ter medo de enfrentar dificuldades e problemas, de ser um parceiro de corpo inteiro numa União que se pretende de solidariedade e é apenas de subserviência a alguns países, de assumir e respeitar o mandato eleitoral e democrático que lhe foi conferido.
É muito interessante ver as notícias sobre o princípio de acordo alcançado através do Observador, que aproveita para demonstrar que a Grécia recuou em toda a linha e que Varoufakis e Tsipras acabaram por ceder em tudo.
Mas lendo o texto do acordo não é essa a minha conclusão. Embora sem conseguir fazer vingar as suas propostas, o governo grego fez o que há muito se esperava que algum governo fizesse - negociação e confronto políticos, sem complexos nem atitudes invertebradas. Ao contrário da opinião de Francisco Seixas da Costa (ou não?), penso que a ofensiva grega no plano internacional foi bem feita e criou condições para que houvesse cedências de parte a parte.
A verdade é que estamos a assistir a declarações de volte-face dos mais improváveis protagonistas, como por exemplo de Jean-Claude Juncker, que age como se tivesse acabado de chegar à União Europeia. O governo português foi igual a si próprio, perdido no seu labirinto e mais fundamentalista que os extremistas, com posições contrárias às que seriam de esperar na defesa dos interesses de Portugal. Paulo Portas esqueceu-se que pertencia a um governo que se esforçou ao máximo pelo pedido de resgate e aplaudiu o querer ir além da Troika, colando-se às declarações de Junker.
Continuemos a aguardar os acontecimentos. Parabéns aos gregos e ao governo grego pela pedrada no charco. Nem que seja só por isso, todos saímos a ganhar.
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