Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
No frenesim de apoiar os ucranianos, que defendem o seu país da invasão da Rússia, um estado ditatorial imposto por Putin, estão a atingir-se proporções assustadoras no que diz respeito à massificação do espectáculo que é a solidariedade e às boas intenções dos povos democráticos.
Mas, como em tudo, não há bons e maus, heróis e vilãos, por muito que seja isso o que a inundação mediática nos faz crer. O mundo livre, nomeadamente os países da União Europeia e os EUA, combate a Rússia, não os russos.
No mundo livre e democrático, ninguém deve ser obrigada a dizer quais as suas opções políticas. Ninguém deve ser perseguido pelas suas opiniões ou pelo silêncio sobre elas.
Considero uma aberração, compreensível, mas não deixando de o ser, as várias manifestações de bulling à comunidade russa portuguesa, tal como aos intelectuais que não se declaram contra a invasão e contra Putin. Num país em que o uso da palavra guerra é considerado traição, parece-me incrível que os corajosos intelectuais ocidentais, sentados confortavelmente nas suas sociedades livres e democráticas, julguem aqueles que pagam com a sua liberdade e a sua vida a manifestação de discordância perante o poder autocrático de um ditador.
Ainda por cima vindo de tantos que, por exemplo em Portugal e durante a ditadura, tiveram que assinar documentos em que negavam ser comunistas ou participar em actividades subversivas para que pudessem manter o emprego.
A liberdade deve ser para todos, de se manifestarem ou de não se manifestarem. Tenho as maiores dúvidas sobre os boicotes culturais e sobre a condenação de quem não expressa o que, subitamente, se tornou na nova verdade inquestionável e soberana. Tenho as maiores reticências à censura de canais de televisão e de agências de informação.
Tenho um enorme cepticismo sobre estas ondas mediáticas intensíssimas e fugazes, que se arriscam a soçobrar perante o peso do ruído omnipresente.
Tenho uma enorme desconfiança a tantos postos de trabalho já disponíveis a quem foge da guerra. Será que já se esqueceram dos médicos, engenheiros, professores, músicos e tantos outros técnicos qualificados que, durante anos, alimentaram a mão de obra barata da construção civil e do serviço doméstico, sem que o país lhes reconhecesse as competências e pudesse oferecer-lhes os empregos correspondentes às suas qualificações?
Há muita crueldade nestas ondas mediáticas de apoios, julgamentos e solidariedades, muitas vezes postiças e fúteis. Espero que esteja enganada, pois esta guerra vai durar e destruir ainda muitas vidas. E nós vamos esquecer depressa as boas intenções e regressar rapidamente às nossas vidas em que o medo do outro e o preconceito são reis.
A não ser que também façamos parte da destruição. E mesmo na dor e no sofrimento, a solidariedade é uma rara ocorrência.
A reacção do PCP à invasão da Ucrânia pela Rússia é inqualificável.
Afinal, aquela voz interior que sempre me murmurou ao ouvido que a aliança entre o PS e o PCP era estranha e contra natura, pois o PCP é um partido com tiques antidemocráticos e o PS é um partido fundador da democracia, tinha razão.
Na verdade aquilo que pensei ser passado voltou a grande velocidade - a cegueira ideológica do PCP que, para defender o indefensável, não se envergonha de negar as evidências.
E por isso eu própria me envergonhei. Durante os últimos seis anos esqueci esses mesmos tiques antidemocráticos e aceitei um governo apoiado pelo partido que defende Putin e o passo de gigante que deu para um conflito armado mundial.
Realmente é preciso traçar linhas vermelhas. E o PCP ultrapassou-a.
Acordámos hoje para uma realidade que não acreditávamos pudesse acontecer.
Para mim é muito difícil não estar assustada. Sabemos como e quando as guerras começam mas não sabemos quando e como acabam.
Lembramos a incredulidade das I e II Guerra Mundiais, os acontecimentos que ninguém julgava possíveis, o agudizar de conflitos em que ninguém acreditava.
Não sou crente. Não tenho fé na boa vontade dos Homens nem na bondade de um Deus inexistente.
As urnas estão abertas até às 19h00. Ainda tem tempo.
Não se atrase. Mais tarde está mais frio. E pode preparar a sua noite eleitoral.
Computadores e televisões a postos, umas coisas para trincar, outras para bebericar, e gente com quem discutir.
Não se atrase. É tempo de ir votar.
Está um dia lindo.
Pode começar com uma saudável caminhada, em direcção à mesa de voto.
Pode continuar com um saudável convívio social, encontrando pessoas e vizinhos que não vê desde o último acto eleitoral.
Pode depois fazer uma almoçarada cheia de quinoa e alface, abacate e semelhantes iguarias gastronómicas, acompanhadas de vários sumos detox, com amigos e familiares, onde discutirá a salvação do mundo.
Pode ainda acabar o dia a comemorar ou a suspirar, com champanhe ou imperiais, vaticinando brilhantes ou negros futuros.
Há lá perspectiva mais aliciante que esta!
Podemos ir ao https://www.recenseamento.mai.gov.pt/
Ou escrever um SMS (grátis) para o número 3838 escrevendo:
RE xxxxxxxx xxxx/xx/xx
número do BI ou CC
data de nascimento em formato AAAA/MM/DD
(*) Título de uma extraordinária canção de Sérgio Godinho, aqui pelos Clã.
Votar é seguro.
Não haverá pestes que nos peguem nem que espalhemos. Não haverá alienígenas nanométricos que nos matem, nem que nos empapem o cérebro.
Depois da inexcedível reflexão a que estamos sujeitos, grave e alegremente omnipresente no dia de hoje, mesmo para quem já votou, que pode sempre reflectir em como devia ter votado de outra forma, podemos pegar no escafandro e ir exercer o nosso direito e dever.
Podemos munir-nos de canetas, máscaras, viseiras, chapéus, luvas, mantas, plásticos, podemos levar biombos, o que melhor impedir de deixar o medo entrar.
Que o medo é bem mais perigoso que vírus, bactérias ou fungos. O medo é o que mais rápida e profusamente nos domina.
O medo mina a democracia.
Ao Voto!
A vitória de qualquer dos maiores partidos, PS ou PSD, é possível.
Tal como vaticinei aqui, Rui Rio beneficia de um élan de vitória e de seis anos de uma governação socialista dificílima nos últimos dois.
A derrota do OE abriu caminho à mudança, pelo cansaço e pela quebra de confiança, que penso quase inevitável, entre governantes e governados. Ao contrário de muitos jornalistas e comentadores, que começam a cavalgar a hipótese da vitória social democrata, começando a posicionar-se e a encontrar na estratégia de António Costa as razões de uma eventual derrota socialista, não me parece que seja esse o problema.
Teremos umas eleições disputadíssimas e espero que essa percepção possa motivar os cidadãos ao voto. Votar é mesmo aquilo que importa. Votar em massa, sem medo de COVID-19 ou de outras maleitas.
A maior peçonha é mesmo a abstenção, a descrença e o descrédito. A democracia faz-se todos os dias e só funciona se nós quisermos.
Tudo está em aberto. Por muito difícil que o futuro seja, com a nossa participação será mais fácil. E se há coisa que a pandemia demonstrou foi a importância, a força, a adaptabilidade e a indispensabilidade dos serviços públicos.
Por isso...............
............................ao voto!
(desenhos do Observador)
Por isso estes debates assumiram a importância que estão a ter. Penso que os pequenos partidos não ganharão muitos votos, nomeadamente o PAN, a IL e o Livre, mas podem fortificar os seus eleitores e tentar evitar o voto útil.
O BE e a CDU estão têm tido a dificuldade óbvia de justificar o injustificável, que foi o chumbo do OE e a consequente crise política, sem a qual não estaríamos à beira de eleições legislativas. Os discursos são sempre os mesmos, mais teatral o BE, mais artesanal a CDU.
Serviram também para irem desmontando o acervo de mentiras, insultos, xenofobia, sexismo e racismo da parte do Chega, cuja prestação se está a transformar naquilo que, de facto, é - um saco cheio de coisa nenhuma.
Mas o debate foi aquele entre António Costa e Rui Rio, como o provaram as audiências. Nele ouviram-se dois possíveis Primeiro-ministros que, com seriedade e elevação defrontaram duas formas diferentes de pensar o País. Talvez não radicalmente diferentes, mas diferentes.
É claro que em momentos distintos estiveram menos bem, mas nada que fizesse perigar o resultado - os eleitores têm uma escolha entre o centro-direita e o centro-esquerda. Penso que a bipolarização foi a grande conclusão: ou António Costa, ou Rui Rio.
Falta saber se conseguiram esclarecer a enorme horda de indecisos e abstencionistas existente. Isso só dia 30 de Janeiro saberemos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
À venda na livraria Ler Devagar