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Presépio

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.11.16

presepio estremoz.jpg

Isabel Catarrilha Pires

 

 

Filho de Maria

e nosso irmão

será que Jesus

nasceu ou não?

 

Dizem que sim

e dizem que não

já não há guia

para esta aflição

menino deus

divino artesão

um redentor

na perdição

gigante maior

pra outros anão

será que Jesus

viveu ou não?

 

Mundo perdido

mundo encontrado

caminho arredio

ou desviado

amável a mão

do nosso amado

agasalha o frio

no tempo afiado

por nós furacão

por nós maltratado

será que Jesus

sofreu ou não?

 

Dizem que sim

dizem que não

por cantos do mundo

já foi encontrado

de pena na mão

do poder apeado

por uns adulado

por outros ignorado

pra uns salvação

pra outros pendurado

em decoração

será que Jesus

morreu ou não?

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publicado às 14:49

Um ano depois

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.11.16

sondagem católica.jpg

 

 

Um ano depois a Geringonça continua a funcionar, melhor do que muitos de nós, eu em primeiro lugar, poderíamos imaginar.

 

Não fui uma defensora desta solução. A decisão de António Costa e do PS apanharam-me de surpresa e não me agradaram pois penso que a legitimidade política para ser Primeiro-ministro, depois da forma como, com o meu aplauso, ocupou o lugar de António José Seguro, não existia.

 

Mas a verdade é que a atitude inédita do PCP, em primeiro lugar, do BE e do próprio António Costa, abriram as portas a uma solução inédita na democracia portuguesa, logrando o alcance de uma maioria parlamentar de esquerda como sustento de um governo minoritário. E os resultados estão bem à vista.

 

Não estaremos financeiramente ou economicamente melhor, mas recuperámos a esperança. Há uma descompressão na sociedade portuguesa que é muito bem vinda após 4 anos de chumbo; o discurso optimista do governo e da maioria que o apoia é um bálsamo para as perspectivas de futuro, a postura digna e reivindicativa perante a Europa devolve um pouco de orgulho à comunidade.

 

Não estaremos melhor, mas seguramente não estamos pior. Foram devolvidos rendimentos e direitos a quem os perdeu e as contas do Estado não estão piores do que estavam durante os 4 anos da crise revanchista da direita. A crise continua, mas deslocou-se o ónus de quem a paga para outros sectores da população, mais privilegiados.

 

Fomos sabendo os problemas que estavam cobertos pelo pano da cumplicidade com Bruxelas, os problemas com a banca, as privatizações a todo o custo e ao desbarato. Alterou-se o foco da sociedade - das finanças para as pessoas. Descobrimos que havia e há sempre alternativas ao empobrecimento, ao aumento da desigualdade, à desprotecção dos cidadãos, à mediocridade e à tristeza.

 

Um ano depois a direita cria factos sobre factos para condiciona as pessoas, como o caso dos contratos de associação das escolas, como o problema da CGD que não sai das notícias.

 

Convém, no entanto, não concluir que está tudo bem e satisfeito, acreditando nas sondagens que, de forma crescente, vão mostrando o apoio popular a este governo. Cada vez mais desconfio destes estudos, pois parece que as pessoas decidiram ludibriar os inquéritos.

 

Por outro lado foi eleito um verdadeiro Presidente da República, também ao contrário do que eu vaticinava. Apesar de demasiado interveniente, Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído definitiva e decisivamente para a recuperação da imagem institucional da Presidência da República e trabalhado com António Costa no apaziguamento nacional.  

 

Da minha parte, com ou sem sondagens, reconheço que estou mais descansada, mais esperançosa e mais confiante. Que continue a Geringonça, que é bem melhor que qualquer calhambeque constituído pelo PSD e pelo CDS.

 

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publicado às 21:26

Manual de Cardiologia

por Sofia Loureiro dos Santos, em 21.11.16

Manual-de-Cardiologia.jpg

 

Uma voz que de fora narra a dor, quase sussurrada, quase sem paixão, uma voz apaixonada por um amor que não chega, que não se chega, que não lhe chega.

 

O sofrimento da antecipação, da espera, do que sabe de antemão que falhará. A transmutação entre o amador e a amada, quando nos damos conta de que o narrador agora é a mulher, aquela por quem se sofre e se desce ao abismo. E a mulher é justificada por si mesma pelas palavras do amador que se funde nela, nas suas razões e nos seus desesperos.

 

Há um caminho de sofrimento e aproximação, de sofrimento e fusão, de sofrimento e distanciamento, sempre num sussurro lento e triste, por vezes mais arrebatado. O título é particularmente feliz ao aludir a uma observação clínica, em que as palavras encadeadas e ritmadas são o pulsar cardíaco, aquele músculo que mesmo depois de todo o sofrimento resiste a recupera, mais lento e com cicatrizes.

 

As palavras repetidas sugerem a cadência e o ritmo: aquela mulher, coração, pedra, palavra, casa, amor, espera. A casa como a materialização do corpo e da esperança que se desespera. É uma poesia com uma melodia própria e dolorosa.

 

Manual de Cardiologia, de Fernando Pinto do Amaral, é um livro absolutamente surpreendente, que nos dói e quase nos redime.

 

GENUFLEXÓRIO

 

Soou o meio-dia    Entra agora

nessa pequena ermida    Dizem ter

talvez quinhentos anos    Lá em baixo

a Torre de Belém

 

Entreabre essa porta

Cinco séculos depois ainda estás

aqui    ainda a vês

entrar contigo aqui    ainda ouves

o mesmo coração a sua mesma

música

e continuas sem saber porquê

 

Ajoelha de novo    Já não crês?

E todavia ficarás

À espera de uma voz    à espera de uma

primeira última luz

 

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publicado às 20:36

Encontro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.11.16

Manual-de-Cardiologia.jpg

 

 

 

Aproxima-te mais    Só mais um passo

o último

Há uma velha amiga que te chama

Retribui-lhe esse amor

Está sempre à tua espera e ao contrário

da outra

esta não faltará ao teu encontro

 

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publicado às 21:40

Sede

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.11.16

Manual-de-Cardiologia.jpg

 

 

 

Está vazio o teu peito    No lugar

do coração talvez um ataúde

ou nem isso    uma sombra

igual a essa noite onde procuras

o mar    o imenso mar    e só encontras

sede

 

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publicado às 18:36

Da hipocrisia militante

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.11.16

cgd.jpeg

O infindável caso da entrega das declarações de rendimentos e património dos administradores da CGD ao Tribunal Constitucional, do eventual compromisso do Ministério das Finanças em dispensá-los de tal obrigação, o folhetim das várias lateralidades indignadas, à esquerda pelo facto de ser impensável fugir ao escrutínio público, à direita pelo não cumprimento de promessas escritas, não me parece ser uma coincidência.

 

Convém esclarecer desde já que não consigo compreender como é possível, num país em que o rendimento líquido médio mensal é de 838 euros, haja alguém a receber por mês muito mais do que a média dos cidadãos recebem por ano, por muito competente que seja no seu trabalho. E não me venham explicar que no sector privado é isso que se aufere porque isso não pode justificar uma tão grande desigualdade salarial.

 

Mas a verdade é que todo este frenesim tem apenas o objectivo de atingir politicamente Mário Centeno. Ficámos a saber, pela mesma imprensa que tanto tem atacado a administração da CGD, que os anteriores presidentes da Administração entregaram, de facto, as declarações de rendimentos e de património, mas em branco ou com informações incompletas. E mais ainda, é que nada aconteceu: o Tribunal Constitucional não fez rigorosamente nada e os nossos jornalistas de investigação, colunistas, opinadores, comentadores e políticos encartados, nunca tiveram qualquer curiosidade em perscrutar as ditas declarações públicas, pois só agora se aperceberam disso.

 

Ou seja, tudo isto é de uma hipocrisia sem nome. E não me parece coincidência porque os ataques políticos têm atingido vários ministros, chegando agora a vez de Mário Centeno.

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publicado às 16:52

Um dia como os outros (169)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.11.16

UmDiaComoOsOutros.jpeg

 (...) Alguém que quer, através da prática clínica, impor aos outros, insensível ao sofrimento que causa e louvando-o até como "redenção", as suas crenças religiosas, não deve ter licença para o fazer. É para isso que servem as leis e as ordens profissionais: para garantir que ninguém usa o poder que lhe é conferido por uma certificação oficial para subverter a sua missão, infringindo direitos fundamentais e incentivando discriminações que a Constituição interdita. Porque está errado. Porque é maldoso. Porque destrói vidas. Não está em causa calar Maria José Vilaça: pode subir a púlpitos, escrever artigos, dar entrevistas, ir à TV pregar a sua visão do mundo e dos homossexuais. Mas não como psicóloga. Porque isso, sim, é uma total anormalidade.

 

Fernanda Câncio

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publicado às 16:47

Visitas guiadas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 19.11.16

visita guiada.jpg

Visita Guiada

 

 

Temos muitos canais de televisão, a enorme maioria deles desinteressantíssimos.

 

Os de informação têm alinhamentos noticiosos idênticos, sem rasgos nem diferenças, com os mesmos comentários e comentadores. Os de cinema repetem os mesmos filmes indefinidamente. Os de séries são todos iguais. E há uma plétora generalizada de debates futebolísticos verdadeiramente ridículos, e de programas de comida com uma multiplicidade de chefes que praticam uma culinária cada vez mais divorciada da alimentação dos comuns mortais.

 

No entanto há alguns oásis de que nos apercebemos quase por acaso, como o Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, que já vai na sexta temporada.

 

Em episódios de cerca de 30 minutos, Paula Moura Pinheiro leva-nos a visitar quadros, peças de arte, mosteiros, altares, igrejas, bibliotecas, jardins, onde tudo é devidamente enquadrado e acompanhado por alguém que explica e conta a história do que estamos a ver, levando-nos a conhecer e a compreender a época, o artista, o acontecimento.

 

De uma elegância contida e de uma sobriedade sem solenidade, Paula Moura Pinheiro consegue interessar os espectadores sem falsas erudições nem condescendências com o popularucho ou discursos facilitistas, percorrendo o País e os seus vários tesouros, mais ou menos desconhecidos.

 

Felizmente podemos ver e rever os programas na RTP Play. Muitos parabéns a toda a equipa que o pensa, produz e realiza.

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publicado às 22:27

Sucessivamente

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.11.16

pose.jpg

Pose

Antony Gormley

 

 

Lá fora soam passos entre o nevoeiro.

Volto a cabeça atentamente

mas não me importam os passos nem o nevoeiro nem a cabeça

nem os sucessivos segundos que transcorrem entre o voltar da cabeça e o piscar dos olhos

entre uma gota desfeita no ar e o peso da gota nos cabelos.

Ouça as rodas do pensamento mais alto que os passos que o nevoeiro conserva

indentado e arrastado de sucessivas voltas no fechar da luz

que se coa por entre as gotas que pesam nas mãos dentro dos bolsos

tão afundadas e presas como a cabeça que conta os sucessivos passos

de quem desatento atravessa o espaço do meu mundo

reduzido à dimensão do nevoeiro em que se transforma o que volta à minha cabeça.

 

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publicado às 18:14

Poeira

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.11.16

emptiness.JPG

Emptiness

Toni Kanwa Adikusumah

 

 

Vamos confinando o espaço do corpo que encolhe

ao canto do universo em expansão que nos acolhe

como infinito é o tempo que se retrai e se recolhe

nas sobras desta vida que se vive e não se escolhe.

 

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publicado às 19:13

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