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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
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Confesso que tenho um problema: de cada vez que vejo ou ouço uma unanimidade laudatória ou condenatória perante um livro, um autor, um filme, uma exposição, enfim, qualquer que seja a pessoa ou a área a que se dedica, de imediato cresce em mim um sentimento de contradição que me leva a ter vontade de fazer o exacto contrário do que todos recomendam que se faça. O circo mediático que se cria à volta de factos fabricados com intenções que por vezes são claras, outras imperscrutáveis, mas que são sempre intencionais, repete-se agora com o livro de José António Saraiva.
Não aprecio José António Saraiva nem as suas crónicas. Sempre me pareceu um factotum alimentado pelo seu nome, pelos contactos que tinha e tem e pelo sentimento auto-congratulatório e auto-admirativo. A saída deste livro e a publicidade que lhe foi associada - a coscuvilhice pura com a devassa das conversas privadas com figuras públicas - têm o óbvio objectivo de promover as vendas e de acicatar a maledicência e a criação de factos pseudo políticos. E tal como a José António Saraiva e à editora interessa que se fale muito e se venda muito, interessaria a Pedro Passos Coelho associar-se a um fenómeno mediático que abre os telejornais e cria casos nas redes sociais, numa tentativa de se mostrar e de colher dividendos dessa publicidade.
A veemente condenação prévia do livro e, principalmente, a confissão de Passos Coelho que não o tinha lido antes de aceitar o convite para o apresentar, mantendo mesmo assim a intenção de o fazer, apenas demonstra a armadilha em que caiu ou, em alternativa menos benéfica, que não teria possibilidade de lho negar (por eventuais favores que lhe devia?).
Não tenho vontade de ler o livro. Não me interessa o tema nem o autor. Mas também não percebo a iniciada sanha persecutória a quem o ler, como se fosse cúmplice de um crime, nem as repetidas declarações de repúdio e nojo de quem ainda o não conhece. Faz-me alguma confusão que as pessoas se pronunciem sobre algo que não conhecem, por muito que confiem na opinião de outros. Cada vez mais me apercebo de que é melhor formarmos as nossas opiniões de uma forma directa e objectiva, sempre que possível . O que se publica nos jornais, o que se diz que se disse e que se pensou e que se escreveu, na maior parte das vezes não corresponde à realidade.
Há já muitos anos, quando José Saramago publicou o seu excelentíssimo livro O Evangelho segundo Jesus Cristo, em conversa com alguém que é católica, apostólica e romana, fiquei muda de espanto perante a sua veemente condenação do livro, afirmando que nunca o leria pois o livro era uma provocação. Concluí que se a sua fé era fraca, tal o medo de ser posta em causa pela leitura de um livro.
Escrever o que se quer e ler o que ser quer, tudo faz parte da vivência em liberdade.
A sensação difusa de que a União Europeia se está a esboroar está cada vez mais intensa e real. Quando António Vitorino, ex-comissário e europeísta convicto, na rentrée política do PS afirma que a divisão entre os grupos dos ganhadores e perdedores é uma ameaça ao projecto europeu, podemos estar certos de que, no PS, começa o afastamento ao europeísmo militante.
Já não é possível ignorar os sinais que se foram acumulando ao longo de tantos anos e que se agudizam diariamente. A desigualdade, a falta de solidariedade e de coesão entre os países da Europa Central e do Norte e a Europa do Sul, o desemprego galopante, o esfarelamento da democracia nos países da periferia sob o jugo das dívidas e da recessão económica e a crise dos refugiados, confluem para a tempestade perfeita.
O populismo e a xenofobia aumentam e estão predominantemente (mas não apenas) do lado dos euro-cépticos. O afastamento entre as populações e os representantes europeus é cada vez maior e está a ser arregimentada pelos extremismos. A crise dos refugiados ameaça ser a gota de água pela incapacidade demonstrada na sua resolução, com a proliferação de muros entre fronteiras e o alargamento das sensações de insegurança e de medo por entre as populações.
Angela Merkel está a perder o seu eleitorado sendo uma das poucas vozes que se mantém fiel ao seu compromisso com a integração e o acolhimento dos refugiados. Mas as opiniões públicas revoltam-se contra o que pensam ser a razão da sua própria pobreza e insegurança. Os líderes extremistas têm sido muito bem sucedidos em integrar o pensamento de que o que é diferente é perigoso.
Infelizmente estou convencida que as forças centrífugas são cada vez mais fortes e que não há arte, engenho nem vontade para dar a volta à situação, de forma a que os europeus se possam reconciliar uns com os outros, vencendo a desconfiança de que falava António Costa, recuperando os valores que estiveram na fundação desta União.
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