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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Vemos, ouvimos e lemos coisas de espantar, algumas dramáticas.
O melhor é voltar à Rádio Comercial.
Nesta altura já estava bastante inclinada a deixar o peru para outras núpcias, mas a gula foi mais forte que a canseira.
Chegava a hora de jantar e eu estava mais ou menos exausta, mas com muita vontade de experimentar as iguarias – fan-tás-tic-as.
Claro que todas estas actividades culinárias foram intervaladas com colagens, envelopes, carimbos e moradas, pilhas de louça para lavar e bodeguice para limpar. Penso que o próximo fim-de-semana será ocupado a jejuar, porque muitos iguais a este farão despertar a irrevogabilidade da decisão de me converter à religião da inactividade – para meditar, claro.
Fim
Pois foi hoje:
Logo de manhã (lá para as 10 e meia, onze), para ficar mais de 3 horas no frio:
As (2) postas de bacalhau esperava por mim. Lá teve que ser:
(continua)
No epílogo de um dia fim-de-semana em grande azáfama, como uma assumida e orgulhosa Dondoca deve ter (depois de ver a definição não me parece que se me aplique...), e depois de me debruçar sobre o inigualável mundo da vida de Lorenzo Carvalho, estendo as pernas para me inteirar das novidades agora publicitadas sobre a misteriosa morte da Princesa do Povo, vindas à luz pelas mãos (ou voz?) dos sogros de um militar britânico – os ínvios caminhos da verdade na vida dos famosos.
Dediquei, portanto, o fim-de-semana a tarefas burocráticas que tenho que cumprir (na minha faceta de secretária), a fazer as compras da semana, a cozinhar e a encher e esvaziar a máquina de lavar louça.
O empadão de carne com puré de legumes, apesar de visualmente pouco apelativo (enfim, estou a ser bastante suave, porque a cor castanha esverdeada não era nada convidativa), estava uma especialidade – a melhor maneira que inventei para despachar uma jardineira de carne que se eternizava no frigorífico e um resto de guisado de legumes, que nunca mais libertava o tacho:
Isto foi ontem. Ainda preparei o prato que queria fazer para hoje à noite: peru marinado em iogurte e especiarias, ideia do MasterChef Australia (sim, eu não sou assim tão imaginativa):
Além disso tinha cozido umas postas de bacalhau, um bocado escangalhadas, para o jantar, mas como comemos o empadão, ficaram para hoje. Os iogurtes de cacau também ficaram na iogurteira, para a semana que vem.
Hoje de manhã, o tiramissú, sobremesa que ambicionava experimentar já há algum tempo mas que, primeiro porque não encontrava o queijo mascarpone (há no continente, em embalagens de 250g, na zona dos queijos), depois porque não sabia onde comprar os palitos de la reine (também no continente, junto à s bolachas), finalmente porque ainda não tinha procurado a receita (basta procurar no google), estava adiada para melhores dias.
(continua)
Excessiva é a atenção que estamos a dar (este post é um exemplo) a uma entrevista que, como muitas outras, foi mal conduzida e revelou uma entrevistadora com falta de respeito pelos entrevistados de quem ela não gosta. Uns por motivos políticos, outros por provincianismo, preconceito, populismo e inveja.
Quantos cidadãos portugueses que auferem somas astronómicas neste país pobre, em crise e com desigualdades galopantes, futebolistas, empresários, administradores de grandes empresas, banqueiros, etc., que enchem a boca com os sacrifícios que os portugueses devem sofrer, sem fazerem ideia do que é viver com o que receitam, Judite de Sousa teve oportunidade de interpelar sobre a solidariedade e a obrigatoriedade da modéstia?
E se Judite de Sousa se entrevistasse a si própria, com o mesmo vigor que usou para Lorenzo Carvalho (de quem não sabia da existência até agora, e que foi magnânimo na resposta)?
Excessiva a incompetência, excessiva a falta de assunto.
Nota: Honra lhe seja feita.
As várias decisões dos Magistrados sobre as candidaturas autárquicas mostra bem como os partidos políticos tudo fazem para a crescente judicialização da política. Além do imbróglio legal, que só terminará depois da intervenção do Tribunal Constitucional, em cima da data das eleições, a redacção da lei dá razão a quem se pronuncia sobre a iliteracia dos deputados, ou a consciente subversão do espírito da mesma - evitar que haja pessoas a eternizar-se no poder.
E depois muito se argumenta a propósito da descredibilização dos políticos.
Lá está. Estas bolhas de algodão têm rasgões que nos obrigam a contemplar os nichos do inferno, por muito que nos digam que não existe.
Passos Coelho e a maioria que nos governam podem avançar sem medo para todos os cortes que lhes apetecer. As notícias da redução da percentagem do desemprego e do crescimento económico, por conjunturais que sejam, alimentam o discurso de que, afinal, eles estão certos e os outros - leia-a a oposição - estão errados. Ou seja, vão continuar, embandeirando de peito feito as tão extraordinárias reformas estruturais, que ninguém percebe mas que resultam. Que se cuide o Tribunal Constitucional, que é um empecilho para as gloriosas medidas que nos vão salvar, quer queiramos quer não.
Como o PS não sabe o que fazer, não tem ideias e não consegue explicar que, embora estas notícias sejam positivas, nada no discurso governamental o é, o PSD arrisca-se a ter, nas autárquicas, uma derrota a saber a vitória, enquanto o PS terá uma vitória completamente desastrosa.
O que esperam os militantes do PS para substituir António José Seguro?
Beryl Cook
Há algumas semanas decidi mudar da TSF para a Rádio Comercial ao despertar, ver o mínimo possível de notícias, evitar ler jornais e, sobretudo, mudar o canal de tv quando aparecem os comentadores. Pareceu-me uma boa forma de me sentir em férias e de perceber como há um país que, apesar das dificuldades, consegue viver. As pessoas respiram e dormem, comem, melhor ou pior, casam-se, nascem e morrem, baptizam-se, apanham transportes, próprio ou públicos, oferecem-se prendas e carinho, riem-se bastante, vão à praia, enfim, apesar da crise, a vida continua.
Na continuidade deste espírito nada revolucionário descobri, ou melhor confirmei, a minha natureza irremediavelmente burguesa. Tudo em mim respira vontade de vida estável, poucos sobressaltos, casa limpa e arrumada, cozinha de conforto, como agora é moda dizer-se, feita pelo chef privativo, muito sossego, boa música, bons filmes, se possível brandos e bem dispostos, livros calmos, que disponham bem e que distraiam.
Até quando vou ao restaurante (a qualquer um, diga-se em abono da verdade, a única coisa que me importa é comer bem e a preços módicos), a minha natureza pouco tolerante vem rapidamente à superfície. Faz-me confusão a profusão de chinelas, havaianas ou outras, os calções de algodão mole amassados e esfiapados, as t-shirts de ginástica ou de alças a cair, a precisarem urgentemente de sabão, água e ferro de engomar, as calças com nódoas, as barrigas avantajadas à mostra, que as pessoas não se acanham de exibir, não porque não tenham dinheiro para outra indumentária mas porque estão à vontade.
Estar à vontade justifica a total falta de sentido estético e das proporções que se instalou na nossa sociedade. Ainda bem que não são necessários vestidos compridos nem disparates semelhantes para assistir a um espectáculo de ópera, mas será que é adequado ir almoçar de pijama? E as crianças, as tão amadas e endeusadas crianças, que ninguém controla quando guincham, correm pelo meio das mesas aos gritos, fazem birras e incomodam toda a gente? Será que não é importante que lhes seja mostrado que os outros, adultos ou não, têm o direito de estar em paz? Será que não é preciso que se lhes ensine a viver em comunidade?
Estar à vontade faz com que todos os infelizes comensais sejam obrigados a ouvir as conversas telefónicas com filhos, maridos, amantes, pais, mães, amigos, patrões, independentemente de ninguém ter nada a ver com a vida de quem assim enche os ouvidos dos outros, independentemente de ninguém querer saber da vida dos outros.
Estou, portanto, embrenhada na soberba da minha classe, sentindo-me numa bolha de algodão que ampara a amolece os desastres do mundo, imersa nos problemas filosóficos de moral e ética de Isabel Dalhousie, um esplendoroso exemplo da burguesia escocesa, mais precisamente de Edimburgo, e nas amáveis aventuras africanas de Precious Ramotswe, a orgulhosa dona da The Nº1 Ladie’s Detective Agency, da sua assistente Ma Makutsi, e do seu marido mecânico, Mr. J. L. B. Matekoni, o proprietário da Toklweng Road Speedy Motors.
Mas vai-se instalando a dúvida; interrogo-me se é agora que vivo alienada numa bolha irreal ou de algodão, ou se tenho vivido até agora numa outra bolha, real ou construída, mas sulfúrica.
Eu não sou mais
Quem você
Deixou
Amor (de ver)
Vou a lapa
Decotada
Bebo todas (viro outras)
Beijo bem
Madrugada
Sou da lira
Manhãzinha
De ninguém
Noite alta
É meu dia
E a orgia
É meu bem
Eu não sou mais
Quem você
Deixou
Amor (de ver)
O combate ao desemprego e o modelo económico que esta maioria defende para o país.
(...) Todos os escalões de rendimento contribuíram para a descida [dos postos de trabalho] exceto o dos salários líquidos inferiores a 310 euros, o qual registou um aumento de 5,2% (mais oito mil casos). (...)
Ver aqui.
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