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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
A vida vai andando, com mais baixos que altos. De novo podemos falar muito do processo Casa Pia, dos pedófilos, dos males da justiça e dos ataques aos trabalhadores e à classe média.
Hoje, por acaso, ouvi um pouco do Forum TSF. Desconfio que há um grupo de pessoas que se combina para telefonar, tal era a homogeneidade das intervenções, saídas directamente da Festa do Avante.
Um dos intervenientes dizia que, desde o 25 de Novembro de 1975, éramos governados pelo PS e pelo PSD e que, portanto, teriam que ser outras forças políticas a tomar conta do país. Não lhe ocorreu, nem por um momento, que o PS e o PSD têm sido as escolhas eleitorais dos cidadãos. Nem sequer se percebe muito bem como é que as outras forças políticas, leia-se o PCP, podem assumir o poder – será que através de um golpe de estado?
O que entristece é que tudo é mais do mesmo, requentado e reciclado, não há qualquer rasgo de novidade. Passos Coelho já perdeu fôlego, Cavaco Silva reeditou o tabu, Manuel Alegre passeou o seu silêncio pelo Verão, Fernando Nobre revelou-se uma inexistência política, Defensor de Moura é uma perplexidade e Francisco Lopes está a cumprir uma agenda que só o PCP compreende e que funciona em quase todas as presidenciais – o colectivo à presidência.
E.E.Cummings: suicide
a vidro
rasgou a solidão dos pulsos
sob a torneira no lavatório
a água estilhaçando-se
em veias numa tempestade de ausências.
Setembro aí está, à espera das máquinas partidárias e das campanhas presidenciais, as já declaradas e as ainda por declarar.
Vive-se uma expectativa mole, lenta, preguiçosa, de ombros encolhidos. Aguardamos com a calma possível, ou com o alheamento desculpável as encenações que se preparam, as negociações de bastidores e as indignações hipócritas dos chefes de orquestras.
Assistimos à manutenção do status quo, do desemprego aos mediatismos da justiça, das coreografias sindicais às lições requentadas do Professor Marcelo.
Setembro aí está.
Tom Jobim; canta Leila Pinheiro
Quando um coração que está cansado de sofrer,
Encontra um coração também cansado de sofrer,
É tempo de se pensar,
Que o amor pode de repente chegar.
Quando existe alguém que tem saudade de outro alguém
E esse outro alguém não entender,
Deixa esse novo amor chegar,
Mesmo que depois seja imprescindível chorar.
Que tolo fui eu que em vão tentei raciocinar
Nas coisas do amor que ninguém pode explicar!
Vem, nós dois vamos tentar...
Só um novo amor pode a saudade apagar
Depois de 8 anos de processo, julgamentos públicos, fugas ao segredo de justiça, nomes que se murmuravam em todos os cafés, decapitação de partidos políticos, é difícil dizer que foi feita justiça. No entanto chegou-se a algum lado. Houve julgamento, condenações e uma absolvição.
Ficará sempre a dúvida do que ficou por dizer ou fazer, se o que se disse e fez foi justo ou não. Mas isso não é novidade. Os processos eternizam-se e, no fim, fica sempre a pairar a dúvida. Mesmo assim, parece-me muito importante que tenha havido um desfecho. Apesar de tudo.
(...) O perigo tem diferentes nomes. Por vezes, chama-se simplesmente saudades de casa, outras vezes, é apenas o vento seco das montanhas que acicata os nervos, outras vezes, o álcool, outras vezes, venenos mais letais ainda. Em certos momentos, não tem nome, nesses momentos somos acometidos por um medo inominável. (...)
(...) Os anjos são demasiado fortes e caminham com pés invulneráveis, mas os homens não querem pedir nada a ninguém, não sabemos ao certo qual é o ponto vulnerável dos outros, talvez seja o nosso? E assim se espalha o silêncio. A esta propagação do silêncio chamamos "endurecer"... (...)
(...) Queríamos falar sobre a felicidade, e nem notámos que era na morte que pensávamos... (...)
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