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Asas

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.08.06
Num dia como este
em que o brilho do ar
nos desorienta,
guardo aplicadamente
impulsos de voar.

Prendo metodicamente
os dedos de ave
na sombra do desejo.

(fotografia de Victor Zhang: wings 2)

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publicado às 18:29

Fio da vida

por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.08.06

O progresso científico tem sido tão avassalador que assusta. Mais rápido do que a velocidade com que pensamos nas suas consequências, mais extraordinário do que a imaginação, mais tecnológico do que humanizado.

Por isso há sempre aqueles humanistas, habitualmente mais pensadores do que fazedores, que olham a vida e o mundo, e principalmente o homem, como um conjunto de células e um conjunto de emoções, tudo misturado e moldado por valores resultantes da época, do espaço, das inter relações com outros seres vivos e com o meio físico, ou seja valores culturais, que tentam criar e uniformizar as regras necessárias para que os homens se estudem, se tratem, mas não se destruam, aviltem ou percam as suas características mais humanas.

Entre estes humanistas há os representantes dos valores espirituais e religiosos, que acreditam que a vida é mais do que um conjunto de moléculas, que há mais qualquer coisa para além dos genes e das proteínas, do oxigénio ou do ozono, a que chamam alma.

Alguns destes guias espirituais depõem num ente criador, omnipresente, omnipotente e omnisciente, a capacidade de dar ou tirar a vida.

Respeito muito as religiões e os religiosos. Cada qual é livre de pensar, acreditar, rezar, seguir rituais e partilhá-los com quem quer.

Mas não respeito aqueles que, por terem uma determinada filosofia de vida, por terem abraçado um determinado conjunto de valores morais, o tentam impor a toda a humanidade, achando que para isso estão mandatados pelo divino.

O conceito de início da vida tem variadas ressonâncias.

A investigação que tem sido feita em relação à utilização de células estaminais (palavra que deriva de estame, que significa fio da vida, fio da existência), na tentativa de desenvolver tecidos que possam substituir tecidos adultos lesionados, para dar um pequeno exemplo, são uma fundada esperança para muitos doentes. O facto de se utilizarem embriões excedentários da fertilização in vitro, ao ter como consequência a destruição desses embriões, põe problemas éticos a muitas consciências.

Foram publicados trabalhos em que se demonstra que é possível desenvolver os mesmos tecidos adultos a partir apenas de uma célula retirada de um embrião muito jovem (ele próprio com muito poucas células), sem o lesionar, ficando com a total capacidade para de desenvolver por inteiro, saudavelmente.

Pois mesmo assim, o Vaticano já fez saber que não concorda com este método, porque se uma célula se pode desenvolver totalmente num novo ser, essa mesma célula deve ser considerada um embrião!!!

De certeza que o Papa Bento (ou Benedito) XVI nunca foi nem será submetido a qualquer intervenção cirúrgica. Na verdade é possível, a partir de uma célula adulta, desdiferenciá-la andando para trás na sua evolução, transformando-a numa célula estaminal. Imagine-se a quantidade de potenciais embriões que se matam numa simples excisão do apêndice!

ADENDA: Vale a pena ler os excelentes posts sobre este e outros assuntos no Diário Ateísta (www.ateismo.net/diario)

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publicado às 21:48

Quarta-feira de cinzas...

por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.08.06
Finalmente! Começa o princípio do fim do vale tudo na Madeira. Finalmente alguém com responsabilidade governativa ousou dizer que o rei vai nu, em vez de desvalorizar os disparates e as enormidades a que Alberto João Jardim se permite.

Convém que os madeirenses olhem bem para o estado a que chegou aquela região, após 30 anos de reinado carnavalesco.

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publicado às 20:53

Exemplar

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.08.06
O Sistema Nacional de Saúde (SNS) é pesado, burocrático, alberga em si vícios, irresponsabilidades, profissionais que pouco fazem e, por conseguinte, muito recebem. Mas é universal e tendencialmente gratuito, e a grande maioria dos seus profissionais têm grande qualidade, são trabalhadores e servem o melhor que sabem e podem os seus doentes e os seus serviços.

Por tudo isso, mantenho o que disse sobre o nosso SNS e parece-me injusto e resultante de ignorante atrevimento, portanto ofensivo, apelidar de “irresponsável” António Arnault, e de “monstro” um sistema que, por muitos defeitos que tenha, foi o responsável pela mais espectacular melhoria dos padrões de saúde em Portugal.

Ao contrário do que pensa João Gonçalves, eu não acho o SNS “exemplar”. Acho que é um dos melhores sistemas nacionais de saúde, tal como é reconhecido por organizações internacionais. E não é por uma tarde de troca de sms’s que alguém completamente alheio à matéria se possa permitir fazer avaliações de carácter global. É prova de sabedoria reconhecer as próprias limitações. Histórias exemplificativas, do tipo da que conta, por muito desagradáveis que sejam, há-as infelizmente para todos os gostos.

Penso que é um erro caminhar no sentido da privatização da saúde. É também uma questão ideológica. Para mim todas as pessoas têm direito a ser assistidas na doença, e é o Estado que deve assegurar, se não gratuitamente pelo menos com a tal tendência, essa assistência. É urgente, necessário e inevitável reformar o SNS. Optimizar e concentrar recursos, premiar quem trabalha e punir quem não o faz, reorientar os gastos, reduzir desperdícios, responsabilizar todos os que lá trabalham, incluindo os conselhos de administração. Tudo isto é possível fazer, desde que haja vontade política.

Do que nos vamos apercebendo parece haver interesse em empurrar médicos e doentes para o sector privado, esvaziando o sector público e engordando as seguradoras. Não tenho rigorosamente nada contra o sector privado da saúde. Mas será que o sector privado tem interesse, por exemplo, em ter serviços de Neonatalogia, com internamentos de grandes prematuros em cuidados intensivos, durante meses? Ou serviços de Infecciologia, que tratam doenças crónicas, prolongadas e dispendiosas como a SIDA? Ou serviços de Oncologia com terapêuticas cada vez mais onerosas? Será que há capacidade para fazer seguros que as pessoas todas possam pagar, que cubram todas estas despesas? Ou fica para o Estado o que dá prejuízo? Ou a saúde vai passar a depender do poder económico que cada um tem?

O SNS é ainda das poucas coisas de que o Estado se pode orgulhar. Esperemos que se não transforme o "monstro" numa "irresponsável" inutilidade.

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publicado às 22:01

Um aperitivo científico

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.08.06
Quando se nomearam determinado tipo de corpos celestes como planetas (do grego planētēs, que significa viajante) acreditava-se que os corpos iluminados que, à noite, pintalgavam o céu, se moviam e, portanto, viajavam à volta da Terra.

Segundo Ptolomeu, a Terra estava parada e, à sua volta, viajava o restante sistema solar (geocentrismo); havia então sete planetas: Lua, Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.

Depois, primeiro com Aristarco de Samos (astrónomo grego que viveu por volta do ano 300 a.c.), passando por Nicolau Copérnico (cientista e astrónomo polaco, sécs. XV/XVI) até Galileu Galilei (cientista e astrónomo italiano, sécs. XVI/XVII), postulou-se que quem estava parado era o Sol, movendo-se a Terra (e os outros planetas) à sua volta (heliocentrismo); o Sol e a Lua deixaram de ser considerados planetas.

Posteriormente, e à medida que se aperfeiçoavam os telescópios, foram-se descoberto novos planetas como Plutão (1930) e UB313 (2003). Para além destes corpos celestes, também fazem parte do sistema solar satélites, cometas e asteróides.

A verdade é que têm existido grandes avanços neste campo, e as diferenças de massa e das órbitas (entre outras) entre os diversos corpos celestes, levou a comunidade de astrónomos, a União Astronómica Internacional (a 24 deste mês) a reclassificarem os corpos celestes, passando Plutão a caber na definição de planeta anão.

Não sei porquê tanta polémica relativamente a esta desclassificação. Daqui a alguns anos, provavelmente após mais desenvolvimentos tecnológicos que permitam conhecer com mais pormenor os corpos celestes, haverá novas revisões desta classificação e novas classificações.

Ainda bem que assim é. Em ciência a única certeza que existe é que não há certezas absolutas, e muito menos eternas...

(Vale a pena ler a Wikipédia)

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publicado às 13:07

Babel

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.08.06

Encontro na torre de Babel
uma multidão de cores
braços e olhos
absortos na diferença.

Eu absorvo a semelhança.

(escultura de Alan Baughman: torre de Babel)

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publicado às 11:41

Amanhã

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.08.06

E se, amanhã, o mundo acordar sem neblinas húmidas e refrescantes, sem a secreta e inevitável certeza do sol a nascente?

A vida arruma-se em fascículos, numa gaveta interior bem dividida, automaticamente oferecendo os dados que a qualquer segundo necessita. Sem qualquer interrogação aceitamos como verdades o que se nos oferece ao olhar, o café aberto ao fechar a porta de casa, o ruído do motor ao dar a volta à chave, o azul baço do rio, a luminosidade dos dias de verão, os sorrisos de bom-dia quando se inicia o trabalho, o espreguiçar na cadeira depois de algumas horas de concentração. No ritualismo dos gestos e dos sentidos construímos uma sensação de eternidade e segurança irreal.

E se, amanhã, os contornos do dia forem diferentes e os meus olhos desdizerem as cores e as texturas do amanhecer?


(com agradecimentos aO Franco Atirador, pintura de Naofumi Maruyama: aurora)

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publicado às 22:09

Sentido único

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.08.06

Em sentido único amamos
esculpimos com gotas o rosto
rodamos ponteiros etéreos,
abrimos rios e veias
empapamos pedras e pombas.

Espantados ou serenos
como pó na eterna poeira,
nascemos e perecemos
com o luzir que incendeia
o único sentido do mundo.

(pintura de Helen Janow Miqueo: cosmic)

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publicado às 15:31

Eu aguardo, sr. Ministro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.08.06

Tenho tido uma enorme esperança de que com o PS no governo e com este ministro da Saúde, que tem pouco jeito para as câmaras, que parece sempre falar demais, mas que parece ter ideias, o que não abunda, que era mesmo desta vez que se iriam fazer reformas a sério.

E não temos tido razões de queixa. Tenho defendido que o estado e o funcionalismo público são para servir e não para se servirem. Penso que o estado tem algumas obrigações que não pode descorar, como a saúde universal e gratuita, mesmo que tendencialmente.

A forma como se organiza a gestão dos centros de saúde, hospitais, etc, sempre me pareceu secundária. O que acho fundamental e a que raramente se assiste, é à responsabilização de quem trabalha, começando por cada um dos prestadores de cuidados, até aos directores dos serviços, directores clínicos, administradores e directores hospitalares e dos centros de saúde.

Introduziu-se no sistema o conceito de empresarialização dos hospitais, elevando-se a bandeira da autonomia de contratualização, de definição de objectivos, de controlo de custos.

Há algumas semanas tem escapado para os media a ideia de que, afinal, alguns hospitais têm muito maus resultados, não se percebendo muito bem o que isso significa, a par de outras notícias de gastos sumptuosos, etc.

Talvez valesse a pena perceber o que correu mal nesses hospitais (se é que alguma coisa correu mal). Porque se há gastos excessivos, convém saber se houve acréscimo de produtividade, mais consultas, mais internamentos, mais actos operatórios, mais doentes a ser tratados de doenças muito dispendiosas como a SIDA e a doença oncológica, se se fizeram mais exames complementares, etc. Ou se, pelo contrário, esse dinheiro que se gastou a mais não se reflectiu em melhor qualidade de atendimento às populações e foi delapidado em horas extraordinárias desnecessárias, aparelhos que não se podem usar, administradores a mais, mobiliário, etc.

Repentinamente, o ministro ameaça os tais hospitais perdulários de voltarem atrás, ou seja, de passarem a ser, novamente, hospitais públicos.

Francamente, não percebo. E que tal responsabilizar as equipas de administração e gestão hospitalar pelo que se passa? Qual é a vantagem do retrocesso? E qual foi a vantagem da empresarialização?

Com enorme tristeza e apreensão, começo a duvidar do rumo, das ideias do Sr. Ministro, deste governo socialista.

Paralelamente, vão saindo artigos dando conta do início das negociações das propostas de alteração da remuneração dos médicos hospitalares. Filosoficamente estou de acordo no que diz respeito a premiar quem mais trabalha. Não estou de acordo, como bastas vezes o afirmei, com o fim da exclusividade de funções. Para mim, o correcto seria exactamente o contrário, com a total separação entre sector público e privado.

Espero que as negociações corram bem. A inevitabilidade da alteração do status quo é evidente. Esperemos que para melhor, com maior justiça, equidade e responsabilização.

Eu continuo a aguardar, Sr. Ministro.

(Os russos são
ligeiramente machistas!)

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publicado às 19:06

Quase Setembro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 23.08.06

Estamos a 2 semanas (menos) do fim do mês. Lá vão saindo alguns coelhos do chapéu, lá se vão treinando alguns casos e discussões. As alterações dos preços de alguns exames complementares, na ADSE, a ameaça de greve dos médicos às horas extraordinárias, a acusação de Cintra Torres de ingerência do governo na informação da RTP, as notícias sobre o aumento da dívida do subsector estado, e a proibição de circulação de resíduos perigosos em Souselas.

Passo a passo aproximamo-nos da reentrada na atmosfera terrestre. Os portugueses estão mais endividados, as férias vão-lhes sair caras.

O Outono faz falta, com as rabanadas de vento, as folhas estaladiças e o acorrer às despesas escolares. O cheiro dos livros, o formigar de gente pelas ruas, a discussão de casos difíceis, a responsabilidade pelo que se decide.

Que venha a actividade e que se varra esta modorra de Verão! Já chega de bonomia, preguiceira e sonolência!

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publicado às 19:07

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